São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Educação: acorda Brasil

JOSÉ ROBERTO DE FELÍCIO

Quando duas crianças brigam na rua, cada uma delas segurando pequenos objetos de três polegadas e meia, costumam escapar frases como essa: "o teu disquete tinha vírus e ferrou o meu 'hard disk'; meu pai vai ficar uma arara e vai ter que formatar tudo de novo".
Ficção científica? Nada disso. O conhecimento gerado a cada ano é de tal ordem que novas tecnologias precisam ser adotadas até mesmo para armazenar as descobertas mais recentes. A comunidade científica já se liga com o mundo inteiro por meio de redes de comunicação como a Internet.
Já é comum o envio, pelo computador, de artigos que na maioria das vezes nem foram publicados nas revistas. É um mercado paralelo da informação que faz prever um novo formato para as bibliotecas em futuro muito breve. O que é incrível, porém, é a velocidade com que essas facilidades vão sendo incorporadas à vida das pessoas. Enquanto isso, nossas crianças balançam suas cabeças sonolentas sobre livros textos ultrapassados que tentam ensiná-las como aos nossos pais. As aulas, então, nem se fale. Continuam sendo monólogos cansativos, distantes da realidade, porque faltam condições objetivas de trabalho.
A educação formal não avançou. A incorporação de novas descobertas está fora do alcance dos professores e os alunos se sentem cada vez mais desmotivados para enfrentar a batalha mais importante desse final de século: a luta pelo conhecimento.
Para superar esse problema não existem poções mágicas, mas será necessário queimar etapas. O aprendizado não pode mais acontecer sob a forma de pílulas, administradas à mesma hora. Ele tem que ocorrer a todo instante, sob várias formas, privilegiando curiosidade e persistência -qualidades fundamentais para a formação de um cidadão capaz.
Em seguida, o fim da tutela, substituída por uma supervisão mais vibrante e eficiente demandada pelo aluno. É sabido que as crianças respondem bem a uma proposta de busca individualizada do crescimento intelectual e não têm medo de novidades. Então o que estamos esperando? É preciso inovar, multiplicando nossos especialistas por meio de uma boa "rede" de atendimento às escolas, de forma que qualquer garoto do interior possa manter contato com professores competentes e boas bibliotecas. Só assim encurtaremos as distâncias que nos separam dos centros mais desenvolvidos e aquelas que congelam o tecido social. A tecnologia -moderna forma de dominação- pode, de repente, ser a tábua de salvação de um país tão grande e tão carente.

José Roberto Drugowich de Felício, 43, físico, é professor titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto.

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