São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996 |
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Mundo Mix é Disneylândia de Ciudad del Este
BARBARA GANCIA
Mas abaixo da linha do Equador tudo é diferente. Por aqui, a "mudernidade" é calcada em comportamento e até em consumismo. Na tarde de domingo, minha amiga Bucicleide, criada em orfanato e sem vida emocional definida, ou seja, uma criatura para quem o Dias das Mães é um domingo como outro, resolveu me levar à Barra Funda para conhecer o epicentro da modernidade tapuia. Alô, Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária! Como é que ainda não colocaram um posto de vacinação contra cólera, peste bubônica, dengue e picada de cobra na entrada do Mercado Mundo Mix, templo brazuca dos descolados? Falam do raio do lugar como se fosse a meca da moda e da criatividade. Mas o Mercado Mix não passa de brechó de Ciudad del Este, povoado por uma juventude maltrapilha, que certamente nunca mandou um só item do vestuário para lavar a seco no tintureiro. Tudo bem. Paulistano não tem opção de lazer. Mas entre fazer tratamento de canal e ver de perto a matinê de viado que rola nas tardes de domingo no Mundo Cão, digo, Mundo Mix, prefiro a primeira opção. Assim que pusemos o pé no galpão, Buci, digo, Cleide, gritou: "Olha lá a Monique Evans!", e correu em direção a barraca de roupas de Evans. Mas Bucicleide mal conseguiu trocar duas palavras com a piloto de provas de Ivo Pitanguy. Alguém tinha passado a mão nos dois vestidos mais caros que Monique trouxera para vender e a rainha da prótese, digo, do Carnaval, espumava feito cachorro louco. Tentei contornar: "Vamos dar uma volta", disse, puxando a amiga pelo braço. "Depois a gente volta pra ver se a carrocinha já levou ela embora". Passamos pela lojinha da cadeia Ponto G, espécie de 7-Eleven do acessório sexual, e fomos dar na barraca do "piercing", onde um pobre coitado deixava que lhe perfurassem o nariz para a colocação de um brinco. Cochichei no ouvido de Bucicleide: "Isso é moderno? Mas os indigenas da Nova Guiné fazem isso há séculos..." Foi a gota d'água. Bucicleide me pegou pelo pescoço e me arrastou à força para fora do promocenter gay. No carro, de volta para casa, não trocamos palavra. Texto Anterior: Metrô pára e congestiona 153,2 km Próximo Texto: Dá-lhe galera!; Colunista desmamada; Reconciliação Índice |
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