São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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A palavra de ordem hoje é 'Vai, Corinthians!'

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Vai, Corinthians! -esse era o grito de guerra do saudoso Chico Mendes, torcedor (e cartola) símbolo desse clube dos anos 50 aos 70. Para os mais jovens, que não o conheceram, peço que coloquem um chapéu de aba virada na cabeça e um charuto no canto da boca de um outro Chico tão alvinegro -o Lang- e terão o velho Mendes aí redivivo, gritando: Vai, Corinthians!
E é esse grito que deve ecoar na alma de cada um dos jogadores do Corinthians esta noite, pois só agora começa para eles a Libertadores para valer, um torneio em que conta mais vibração do que inspiração.
Mesmo porque o Grêmio, campeão, é essencialmente vibração, embora harmonizada com sabedoria pelo técnico Luiz Felipe e maturada pelo longo tempo em que esses jogadores atuam juntos. Nesse sentido, não haverá surpresas.
O diabo é que o estilo do Grêmio me lembra sua antítese, em matéria de brilho -o drible de Garrincha. Todo mundo sabia de cor e salteado quais os movimentos que faria, sempre para a direita. E ninguém conseguia impedi-lo de repetir a jogada hipnótica e fatal.
Assim é o Grêmio. Joga fechadinho, duríssimo na marcação, partindo para os contragolpes que culminam invariavelmente no cruzamento para o cabeceio de Jardel. E assim vai o Grêmio construindo sua legenda atual.
É bem verdade que o Corinthians, ainda no ano passado, anulou esse esquema, sagrando-se campeão da Copa do Brasil. Mas as circunstâncias eram outras. Entre elas, a presença de Viola no ataque e, na zaga, um Célio Silva impecável. Hoje, não há Viola, e Célio Silva volta à equipe depois de longo período de recuperação.
Por isso, mais do que nunca, a palavra de ordem terá de ser mesmo: Vai, Corinthians!
*
Essa história da convocação de Romário para a seleção olímpica me faz lembrar de Zizinho, o Mestre Ziza, que, simplesmente, foi o mais completo jogador brasileiro até o aparecimento de Pelé.
Zizinho, na Copa de 50, foi considerado pela austera crítica européia presente ao Maracanã como o maior jogador do mundo. E não era para menos: o passe de circunferência polida, a sucessão de dribles desmoralizantes, os lançamentos de 20, 30 metros em que a bola farejava no ar o espaço insuspeito onde estaria o companheiro em posição invejável, o tiro de mel e veneno eram artes que Zizinho executava sem tirar os olhos do horizonte.
E mais: era um leão. Não tinha bola dividida nem cara feia de nego valente ou gringo traiçoeiro que afugentasse o pequeno gênio do futebol.
Mas, fora do campo, a liderança de Zizinho sobre os companheiros era considerada -para usar expressão da época- malsã. A noite era uma criança, e nem técnico autoritário ou cartola empedernido tinham vez com Mestre Ziza.
Assim, depois de ter sido barrado da Copa de 54 por Zezé Moreira, às vésperas de 58, apesar de já beirar os 37 anos de idade, houve quem hasteasse a bandeira do velho mestre.
Acabou indo Didi, que nos conduziu ao primeiro título mundial. Mas até hoje estou convencido de que lá chegaríamos também com Zizinho.

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