São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Altman critica o cinema americano

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

É com a serenidade de quem se sabe uma lenda viva do cinema americano que Robert Altman entrou na manhã de ontem na sala Picasso do Hotel Martinez de Cannes. Um grupo representando cinco jornais europeus e a Folha o esperava para entrevista.
Durante o encontro, deixou claro sua gratidão para com o festival que o premiou com uma Palma de Ouro, por "MASH", há 26 anos.
"Festivais como Cannes e Veneza são importantes para revelar novos talentos, como eu fui um dia. Acho que é meu dever prestigiar este trabalho".
Altman, 71, comparou "Kansas City" e "Nashville" -até aqui, sua obra-prima indiscutível-, comentou o documentário que realizou concomitantemente ao filme e deplorou a situação do cinema americano. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - O senhor concorda que "Kansas City" está muito próximo de filmes como "Os Modernos" e "O Circulo Vicioso" de seu ex-assistente Alan Rudolph?
Robert Altman - Claro e isso muito me honra. Estou produzindo também o próximo filme dele, "After Glow".
Folha - O contraste com "Nashville" era fundamental?
Altman - Sim. "Nashville" é passado. Não sou fã de música "country". Fiz lá o retrato distanciado daquela cultura específica. "Kansas City" tem o tipo de música que prefiro, o jazz.
Folha - Como é o documentário que o senhor rodou simultaneamente a "Kansas City"?
Altman - Ele se chama "Robert Altman's Jazz 1934, Remembrance of Kansas City Swing". Está pronto e dura 52 minutos.
Devo lançá-lo em breve, no segundo semestre, em vários festivais internacionais de jazz, ainda que os distribuidores pareçam um pouco preocupados com a proximidade das estréias. Harry Belafonte faz a narração explicando um pouco do que se trata.
Folha - O senhor sente-se muito solitário dentro do atual estado das coisas no cinema americano?
Altman - Há muito dinheiro hoje no cinema americano. Só pensam nisso. Tudo o que conta são as estrelas. Se você tem Tom Cruise ou Tom Hanks ou Sandra Bullock pouco importa o que pretenda fazer.
O poder está muito concentrado. Há, de modo geral, dois grupos, a Warner e a Disney. E vai piorar. Mas tem gente fazendo coisas maravilhosas.

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