São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Pilotos podem ter sido intoxicados

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MIAMI

As hipóteses sobre o motivo da queda do vôo 592 da Valujet convergem para um ponto: a fumaça que foi detectada na cabine deve ter intoxicado piloto e co-piloto, que perderam a consciência e o controle do avião.
A suposição está sendo endossada por vários especialistas em aviação. Após a piloto Candalyn Kubeck, 35, informar ao aeroporto de Miami que iria retornar porque havia fumaça na cabine, sua voz e a do co-piloto ficaram abafadas -um sinal de que teriam passado a usar as máscaras de oxigênio.
As máscaras, contudo, podem não ter sido suficientes para evitar a intoxicação. A fumaça causada pela queima de equipamento elétrico pode ser altamente tóxica, propagar-se rapidamente e provocar cegueira temporária. A cabine, pequena, concentrou os gases.
Segundo testemunhas, o avião fez curvas em forma de "oito" e, em seguida, mergulhou no pântano do Everglades em um ângulo de 75 graus.
Não houve explosão antes da queda. Ao bater na água, um pequeno cogumelo de fumaça subiu ao ar. Mas um piloto-aluno que sobrevoou o local apenas dois minutos após o acidente disse que não se via sinal algum do avião.
Caixa-preta
A caixa-preta encontrada na segunda-feira -e levada a Washington para ser analisada- contém informações sobre equipamentos de vôo. Ela monitora velocidade, altitude, trem de pouso, entre outros. Esta caixa fica na cauda do avião e, em aeronaves modernas, chega a registrar até 75 equipamentos diferentes ao mesmo tempo. No caso dos antigos DC-9, não monitora mais do que oito.
Por essa razão, não se esperava ontem que a caixa trouxesse muitas informações. A caixa-preta da cabine, que grava a voz dos pilotos, deve conter muito mais dados sobre os últimos momentos do vôo que acabou no pântano.
Tripulação
A piloto Candalyn Kubeck começou a tomar aulas de pilotagem aos 15 anos de idade. Neta de um piloto americano da Primeira Guerra Mundial, "Candi" -como era chamada- também estava casada com outro piloto, Roger Kubeck, da American West.
Antes de trabalhar para a Valujet, Candalyn pilotou aviões para a extinta Eastern Airlines, após a greve dos pilotos desta companhia, em 1989.
O salário dos pilotos da Valujet -inclusive do da Candalyn- é de US$ 25 mil ao ano (pouco mais de US$ 2.000 por mês) mais bônus por horas de vôos. É um salário considerado baixo para a atividade. O co-piloto Richard Hazen, 52, era oficial aposentado da Força Aérea.

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