São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 1996
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Plano de saúde, a peste moderna

GILBERTO DIMENSTEIN

Se quiser copiar Bill Clinton, Fernando Henrique Cardoso tem, agora, ótima chance de arrumar uma briga capaz de reverter a queda de seu prestígio entre a classe média: bater nos planos de saúde.
Candidato à reeleição, o presidente americano, baseado em pesquisas de opinião, exige (com o devido estardalhaço) que o Congresso obrigue os convênios a pagar pelo menos 48 horas de internação hospitalar para mulheres no pós-parto.
Impossível encontrar melhor símbolo, numa campanha eleitoral, do que a maternidade conspurcada por empresários gananciosos.
A imagem dos planos de saúde entre os brasileiros é ruim. Pagamos muito e, quando precisamos, nem sempre somos bem atendidos. O sentimento de impotência é enorme, principalmente porque o sistema público de saúde, pelo qual também pagamos, salvo exceções, não é opção possível.
Suspeito, no entanto, que a imagem dos planos de saúde nos Estados Unidos seja ainda pior do que no Brasil; são vistos como uma espécie de peste moderna.
Depois da indústria do fumo, ninguém leva tanta bordoada.

O ministro Pedro Malan propõe o remédio da concorrência, abrindo o mercado para grupos estrangeiros. A concorrência é nossa melhor proteção contra os empresários. Ela os obriga a trabalhar melhor e a preços menores.
Se apenas concorrência resolvesse, os americanos estariam satisfeitos. E não estão.

A dura verdade: existe delinquência, ganância, malandragem. Estes são casos de polícia.
Mas a medicina curativa é cara. Podem diminuir os lucros astronômicos dos planos de saúde. Mesmo assim, se não quiserem quebrar o sistema, vão continuar gastando montanhas de dinheiro.

Reflexo da ojeriza do americano pelos planos de saúde, um recorde na Justiça: Nelene Fox precisava de um transplante de medula, mas seu plano de saúde recusou.
Morreu, e a família, em 1993, entrou com processo na Justiça e ganhou US$ 89,1 milhões.

Desde segunda-feira passada, o Brasil tem chance de ficar menos incivilizado.
Em associação com grupos da sociedade civil, o governo federal apresentou o Plano Nacional de Direitos Humanos, com medidas há muito reivindicadas para reduzir nossa taxa de barbárie.
Mas, se não sair do papel, não vale nada, é claro.

Em convênio com o Núcleo de Estudos da Violência, da USP, o Instituto Ayrton Senna financiará bolsas para brasileiros estudarem no Centro de Direitos Humanos da Universidade Columbia, em Nova York, considerado o melhor do mundo.
Está em estudo a possibilidade de Columbia apoiar a criação de um programa semelhante na USP.

PS - Tenho dois planos de saúde. Um brasileiro e um americano; o brasileiro é mais caro e oferece bem menos.
Também pago aposentadoria privada no Brasil; comparando com os planos americanos, desconfio que estamos sendo lesados. Deveriam estimular a entrada de empresas estrangeiras no setor.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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