São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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Menor aprende a usar computador

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Crianças carentes estão aprendendo a usar o computador na Estação Ciência -museu da USP que oferece exposições e experimentos científicos a escolas e ao público em geral.
Segundo as educadoras Cecília Toloza, 37, e Dirce Pranzetti, 36, crianças que não sabem ler nem escrever apresentam rendimento surpreendente ao computador.
Os irmãos Keila, 10, e Rubens de Souza, 7, passaram o dia ontem na Estação Ciência. Eles moram com os pais em Francisco Morato (zona oeste) e não vão à escola.
"Rubens é apelido. O meu nome é Rubinho Barricchelo", diz o garoto, sem pronunciar as letras R. As educadoras trabalham com ele noções de alfabetização, ensinando-o a escrever o nome no computador. Ele se recusa a escrever o nome da mãe. "Não quero, ela só me bate", disse.
Às 17h30, Rubens sentiu fome -disse que só comeu uma fatia de mortadela antes de sair de casa. Tirou moedas de R$ 0,10 do sapato e foi comprar um cachorro-quente na praça em frente ao museu. "Lá em casa não tem comida", disse.
Guardador de carro
Os irmãos foram levados à Estação Ciência (Lapa, zona oeste) por um primo, que aparece de vez em quando. Keila, que também é analfabeta, manipula os jogos de computador com desenvoltura.
Os dois recebem "dicas" de Marcos Vasco, 15, que frequenta o museu há cinco anos e ajuda informalmente os monitores do museu.
Marcos trabalha de manhã como guardador de carros e passa as tardes no museu. Diz que morou na rua por três anos, depois de brigar com os pais.
Há duas semanas, foi morar com a tia. "Moro sozinho num porãozinho embaixo da casa. Tenho fogão e faço a minha janta sozinho."
Segundo o diretor da Estação Ciência e professor da USP Ernesto Hamburger, 62, o projeto surgiu a partir da grande frequência das crianças carentes.
"É interessante notar que o projeto não tem natureza de assistência social. O interesse das crianças é intelectual", disse.
Hamburger afirmou que não tem patrocínio para esse projeto.
O trabalho começou em outubro de 1995. Desde janeiro, 120 crianças carentes em passagem pelo museu já foram catalogadas.

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