São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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'Irma Vep' revela crise do cinema francês

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Nenhum filme em Cannes-96 revela mais profundamente a crise do cinema francês atual do que "Irma Vep" ("Irma Vap", anagrama de vampira), de Olivier Assayas, exibido na mostra paralela "Um Certo Olhar".
Esclareça-se: nada tem a ver com a peça encenada no Brasil por Ney Latorraca e Marco Nanini.
Aos 41 anos, Assayas já conta no currículo com seis longas ("A Criança do Inverno", "Água Fria") e dois livros sobre cinema.
Sua trajetória retoma duas gerações depois a mesma da dos líderes da "nouvelle vague" dos anos 60.
"Irma Vep" é bem um filme de crítico. Retrabalha mais reflexiva do que dramaticamente a tradição cinematográfica. Em resumo, transforma a história do cinema em tema de discurso.
Homenagem
Convivem três filmes em um. "Irma Vep" é ao mesmo tempo uma homenagem à série do cinema mudo "Les Vampires", de Louis Feuillade, um filme sobre a prática cinematográfica à moda "A Noite Americana", de Truffaut, e uma "docuficção" sobre o estado da produção francesa hoje.
Assayas põe seu filme em movimento pelo contraponto entre a estrela de Hong Kong, Maggie Cheung, dos filmes de Wong Kar-Wai e Jackie Chan, e o ator-ícone francês, Jean-Pierre Leaud.
Teoricamente, ela interpreta uma atriz de Hong Kong chamada para fazer uma Irma Vap contemporânea. Ele, um diretor idiossincrático chamado René Vidal.
Há um simbolismo evidente nisso, relacionado à crise de identidade do cinema francês dos anos 90.
Irma Vap resgata o final do período de ouro do cinema silencioso francês, o ponto de virada em que a hegemonia mundial foi conquistada pela produção americana a partir de "Intolerância" de Griffith.

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