São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
Próximo Texto | Índice

Falha pode ter condenado 12 do IRA

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BELFAST

Uma falha em um aparelho usado pelo governo britânico para detectar a presença de explosivos nas mãos e roupas de supostos terroristas pode ter levado pelo menos 12 membros do IRA (Exército Republicano Irlandês) para a cadeia.
O erro foi admitido anteontem à noite pelo secretário (ministro) britânico do Interior, Michael Howard. Durante a sessão do Parlamento de ontem, ele reconheceu a falha e teve sua renúncia pedida pela oposição trabalhista.
"Não tivemos culpa direta. Vamos rever algumas condenações. Ainda assim, a possibilidade de alguma reversão de sentença me parece improvável", disse Howard.
O problema
As sentenças em dúvida foram proferidas a partir de 1990, quando o aparelho defeituoso foi colocado em uso. Desde então, 38 pessoas foram condenadas a penas variáveis de prisão acusadas de terrorismo e ligação com o IRA, grupo que prega a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido.
O aparelho com problema era uma centrífuga na qual eram colocadas amostras diluídas de roupas e resíduos encontrados nas mãos dos supostos terroristas.
Ele contém amostras de explosivos diversos para serem comparadas com as amostras recolhidas dos suspeitos.
Um desses explosivos, o Semtex, aparentemente vazou para dentro da centrífuga, segundo o governo. Isso pode ter contaminado amostras que, eventualmente, estariam livres de explosivos.
O teste é considerado decisivo para condenações. Segundo Howard, das 38 condenações, 12 dependeram diretamente do teste.
Recurso
Londres ainda não revelou os nomes dos presos que terão seus processos reexaminados.
Um deles, Nicholas Muller, já pediu a seu advogado uma petição para a revisão de sua pena. Ele foi condenado em 1990 a 30 anos de cadeia, acusado de ter uma fábrica caseira de bombas em Clapham, sul de Londres.
Seu advogado, Michael Fischer, disse à Folha por meio da assessoria do Sinn Fein (partido político ligado ao IRA) que iria entrar com o processo hoje. Muller, 48, alega inocência.
"O problema é que nós somos irlandeses. E, na Inglaterra, sempre nos damos mal só por sermos irlandeses", disse Annie Maguire.
Ela ficou presa durante nove anos acusada de possuir explosivos em sua casa no processo dos Quatro de Guildford.
O caso, que envolve jovens inocentes presos pela explosão de um bar, é descrito no filme "Em Nome do Pai", de Jim Sheridan (1993). Maguire foi solta por ser inocente, em 85, e agora trabalha pela libertação de prisioneiros.
Seu advogado, Alistar Logan, disse que a falha pode atingir mais processos. "Os laboratórios usavam máquinas do mesmo fornecedor antes de 1990", disse.

Próximo Texto: Nacionalista assume governo indiano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.