São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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A Força e a fraqueza

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A anunciada adesão da Força Sindical à greve geral que a CUT está preparando é, talvez, o mais eloquente sintoma da solidão em que o governo Fernando Henrique Cardoso está se metendo.
A Força tem uma tradição governista, se é que se pode falar em tradição no caso de uma central relativamente jovem. Seu principal líder, Luiz Antônio de Medeiros, esteve próximo de José Sarney, foi dos mais entusiastas no apoio a Fernando Collor e também nunca escondeu o respaldo a FHC.
O laço Força Sindical-governo atual está bem refletido na frase que seu outro grande nome, Paulo Pereira da Silva (Metalúrgicos de São Paulo), disse ontem a Fernando Rodrigues, da Folha: "Eu ligo para o presidente, ele me atende. Se está em reunião, em 20 minutos me liga de volta. Faz muito bem para a minha vaidade, mas não resolve os problemas do país".
Já é estranho, para dizer o mínimo, que a vaidade de um dirigente sindical seja ativada pelo fato de falar com o presidente da República.
Parece-me que o que deveria despertar a vaidade de um líder sindical seria o fato de ser entendido e apoiado pela base, muito mais do que falar aos poderosos de turno. Mas sou pré-antigo, devo estar equivocado.
O fato politicamente relevante é o seguinte: quando o pessoal que gosta de estar de bem com o poder começa a disparar contra ele, fica-se com a sensação de que o poder está se enfraquecendo.
As briguinhas de comadres na base parlamentar do governo também transmitem idêntica sensação. É a velha história: em casa em que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão (não importa, no caso, o tipo de pão que está faltando na base governista).
É até provável que malogre a greve geral em preparação, com ou sem a Força Sindical. Mas o aceno da adesão já é um dado a se computar nas análises da conjuntura.

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