São Paulo, quinta-feira, 16 de maio de 1996
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GREVE IRRESPONSÁVEL

Anteontem, São Paulo viveu um dia de caos provocado pela greve dos metroviários. Pela manhã, os engarrafamentos atingiram a marca de 153,3 km, contra média de 80 km, a maior já registrada desde que se iniciaram as medições em setembro de 1994. Os ônibus estiveram lotados e, diante da enorme demanda por táxis, houve motoristas que cobraram o dobro do marcado no taxímetro.
Vale dizer que, no embate entre trabalhadores do Metrô e a direção da companhia, quem pagou foi a população. Não se trata, como é óbvio, de contestar o direito de greve, amplamente garantido pela Constituição.
Ocorre porém que, em qualquer sociedade que se pretenda minimamente organizada, existem serviços essenciais que não podem ser inteiramente paralisados. Romper esse limite é ultrapassar o direito de greve para incorrer na pura chantagem.
Foi o que fizeram os metroviários ao desacatar determinação do TRT para que as composições circulassem durante os horários de pico. E, se a categoria teve o bom senso mínimo de não dar continuidade ao movimento -ao contrário do que fizeram os petroleiros, hoje atolados em dívidas impagáveis-, ameaça agora incorrer numa nova modalidade de chantagem. A assembléia que pôs fim à greve decidiu abrir as catracas, caso a direção do Metrô recorra da decisão do TRT acerca do índice de reajuste concedido para os metroviários.
Em primeiro lugar, a Constituição garante a todos o pleno acesso à Justiça. E não se pode tolerar que chantagens anulem esse princípio fundamental da democracia. E mais, embora possa parecer simpático abrir as catracas à população, não se pode esquecer que nada sai de graça e, no final, quem arcará com os custos será essa mesma população que ingenuamente acreditará estar ganhando.
O pior é que eles estão se utilizando de um instrumento -o Metrô- que lhes foi entregue pela sociedade para servi-la e o estão usando para atender a interesses da corporação contra essa mesma sociedade.

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