São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
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Carlinhos Brown lança coquetel étnico

LUIZ CAVERSAN
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O músico baiano Carlinhos Brown odeia rótulos, mas não tem como escapar: ele lançou anteontem à noite em Salvador o mais bem acabado exemplo de "etnic music" do país, o disco "Alfagamabetizado" (EMI-Odeon).
O CD, que chega às lojas dia 24, está tendo lançamento simultâneo no Brasil, Europa, Japão e Estados Unidos. O custo da campanha para torná-lo um produto internacional deverá alcançar a casa do US$ 1 milhão.
Aos 32 anos, Brown é um dos mais inventivos e dinâmicos instrumentistas da música brasileira. Um dos artífices da reviravolta rítmica na música baiana, com a criação da Timbalada e de diversos subprodutos desta, ele é mais que apenas um percussionista. E o disco mostra muito bem isso.
"Não se trata apenas de um disco solo, mas do registro de obras", disse Brown, durante uma espécie de entrevista-debate à beira do mar de Salvador, na festa de lançamento.
Em seu tradicional estilo abundante de palavras e definições exóticas, o músico fez questão de emprestar significados múltiplos, principalmente étnicos e culturais, ao seu disco.
Disse, por exemplo, que tentou fugir da "pressa do axé-music, que tem de mostrar um disco por ano". "Procuro algo muito além disso. Eu também poderia ter feito um disco de reggae e aproveitado o meu visual rastafari para vender muito. Mas não estou fazendo uma música que pertença a mim, mas sim que pertence ao Brasil."
Exageros à parte, o fato é que o trabalho de Brown resultou num saboroso coquetel de ritmos brasileiros, com pitadas de todas as suas influências -sobretudo a afro.
O nome do disco, segundo explicou, tem a ver com a velocidade com que as informações se processam no mundo contemporâneo.
Brown está convencido de que o Brasil se encontra no centro da internacionalização da cultura, com sua riqueza, diversidade e talentos emergentes.
Para ele, "a mama África já era; todo mundo agora quer mamar no Brasil".
Convidados
Como disco de baiano que se preze, ao de Brown não poderiam faltar os convidados famosos. Os "mestres" Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa têm uma aparição coletiva na movimentada "Quixabeira".
A amiga e parceira Marisa Monte faz dueto com ele no samba "Seo Zé". Em duas composições -"Lobos" e "Frases Ventias"- sobressai o delicioso violoncelo do francês Vincent Segal.
E, apesar de ter alguns guitarristas convidados -entre eles o zairense Maiká Munan-, o destaque no instrumento fica por conta do baiano Roseval Evangelista, vizinho de Brown no bairro pobre do Candeal e responsável por solos inesquecíveis.
Na França
O mercado internacional em que o disco está sendo mais intensamente trabalhado é o francês. Na semana passada, ele estava na capa da revista "Vibracion", em duas páginas da "L'Afiche", em cinco páginas de "Inrockuptibles". No prestigioso diário "Le Monde", mereceu uma página inteira de biografia e crítica do disco.
Sob o título de "Profeta brasileiro da explosão de ritmos", a jornalista Veronique Mortaigne afirmou que Brown é "um mosaico em si mesmo" e que seu disco é "floresta luxuriante".

O jornalista Luiz Caversan viajou a Salvador a convite da gravadora EMI-Odeon

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