São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996 |
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Bertolucci se perde em dramas adolescentes
AMIR LABAKI
A piada exagera mas faz sentido. "Stealing Beauty"pode ser visto como uma espécie de recomeço para Bertolucci. É uma estudada ruptura com a vertente épica que há 15 anos havia abraçado, com maior ("O Último Imperador", 1987) e menor ("O Pequeno Buda", 1993) sucesso. "Stealing Beauty" resgata o tom intimista de filmes como o sensual "O Último Tango em Paris" (1972) e o edipiano "La Luna" (1979). O desenvolvimento segue os padrões típicos de um romance de formação. Após a morte da mãe, uma jovem americana de 19 anos, Lucy (Liv Tyler), volta à casa de uma das melhores amigas dela, Diana (Sinead Cusack), na deslumbrante Toscana italiana (noroeste do país). A desculpa é ter seu busto esculpido por Ian (Donal McCann), marido de Diana. Lucy tem na verdade dois outros objetivos: procurar seu verdadeiro pai e perder a virgindade com um amigo da adolescência. Na deslumbrante vila em que se hospeda, encontra entre outros uma fogosa quarentona (Stefania Sandrelli), um marchand octogenário (Jean Marais) e Alex, um escritor à beira da morte (Jeremy Irons). O eixo Lucy-Alex é central. O roteiro de Bertolucci e Susan Minot joga com um possível complexo de Electra, combinando em Alex as figuras de pretenso pai e candidato a deflorador. Mas desequilíbrio é a palavra-chave de "Stealing Beauty". A busca do pai tem uma progressão dramática muito menos esquemática que a procura do iniciador ideal. O núcleo adulto do filme tem em geral uma complexidade absolutamente negada à turma jovem. Por fim, Irons esmaga a ninfeta Kiv Tyler. Caberia a ela energizar os demais personagens. Bela mas não especial, esforçada logo quase convincente, Tyler sustenta com dificuldades um filme que a tem por personagem condutor. Todo o frescor, a graça e a vitalidade que se esperava extrair de Tyler emanam dos olhos crescentemente foscos do crepuscular Alex, de Irons. Ele magnetiza a tela nas poucas cenas que aparece e imprime ao filme um "pathos" no mais ausente. É a interpretação do festival. Assim, a Palma de Ouro ficou ontem mais perto do dinamarquês Lars von Trier de "Breaking The Waves" (Quebrando as Ondas). Ou do canadense David Cronenberg de "Crash". Veremos hoje. Texto Anterior: Inverno traz clichês irritantes ao noticiário da TV Próximo Texto: Jaco van Dormael fracassa Índice |
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