São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996 |
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Jaco van Dormael fracassa
AMIR LABAKI
O novo filme reúne Georges, um jovem nascido com a síndrome de Down (Pascal Duquenne) a Harry (Daniel Autiel), um executivo de sucesso de vida pessoal destruída. Assim, "Rain Man" encontra "Wall Street". Dormael não tropeça no artificialismo de escalar um ator, ainda que brilhante como o norte-americano Dustin Hoffman, para o papel do que se convencionou chamar de "excepcional". Duquenne empresta ao filme uma verdade que nem mesmo as fraturas de roteiro conseguem totalmente suprimir. Daniel Autiel (de filmes como "Minha Estação Preferida" e "Uma Mulher Francesa") faz seu melhor, produzindo uma real dupla. Dentre os dois é seu o papel que poderia resvalar para o patético, sobretudo pela evolução final absolutamente absurda do personagem. Se Harry mantem-se de pé é graças ao talento do ator Autiel. A tradicional história do encontro fortuito entre este tipo de personagens é temperada com toques surreais. As alucinações do alegre Georges infiltram-se durante toda a trama do filme. Um cantor mexicano ultracolorido é a principal fixação, seguido pela mãe morta. O resultado dessas intervenções alterna entre o cômico e o excessivo. O tom pietista evitado por Dormael no trato de um protagonista "anormal" aflora sem perdão quando ele reúne, num dia de farra na cidade, Georges e seus vários amigos que possui na clínica. Vai-se então de tropeço em tropeço até o previsível final que retoma a forte sequência de abertura. Sobraram pouco mais do que o talento para a narração visual e a primazia da questão paterna do Dormael de estréia. Que venha logo o terceiro filme. Texto Anterior: Bertolucci se perde em dramas adolescentes Próximo Texto: Charutos; Cannes, 50; Pacto; Kaige Índice |
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