São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 1996
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Descoberto novo 'rei' dos dinossauros

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se tivesse esperado um pouco mais para fazer "Parque dos Dinossauros" ("Jurassic Park"), o cineasta Steven Spielberg poderia ter mudado o nome do seu filme para "Parque Cretáceo".
A revista científica americana "Science" publica hoje a descoberta do fóssil de um dinossauro ainda maior que o Tyrannosaurus rex -grande estrela do filme, considerado por muito tempo o maior dinossauro carnívoro-, e de outro que parece ser o mais rápido entre todos os dinos carnívoros.
Os dois animais revelados hoje viveram há 93 milhões de anos, no período geológico conhecido como cretáceo.
A equipe de nove pesquisadores -incluindo gente da França e do Marrocos- achou os fósseis na região quente e desolada de Kem Kem, no sudeste marroquino, perto da fronteira com a Argélia.
"Um bocado da atenção é despertada pelo tamanho. De fato, o crânio do Carcharodontosaurus saharicus é o mais comprido de todos, 5% mais longo que o do maior dos fósseis de tiranossauro, e 15% maior que a média dos tiranossauros conhecidos", disse à Folha o líder da equipe de pesquisa, o paleontólogo americano Paul Sereno, da Universidade de Chicago.
Comentando o achado, o pesquisador Philip Currie, do Museu Tyrrell de Paleontologia, de Alberta, Canadá, disse que a descoberta acaba com uma especulação sobre o bicho que já durava 80 anos.
Fósseis fragmentários do Carcharodontosaurus já tinham sido encontrados na Argélia, no Egito, no Níger, na Tunísia e no Sudão, indicando que o animal estava bem espalhado pela África. Com o crânio de 1,5 m e comprimento de mais de 14 m, ele parece mesmo ter reinado entre os dinossauros.
O período jurássico foi o auge do domínio desses grandes animais na Terra. Começou faz 190 milhões de anos. Durou até 135 milhões de anos atrás, início do cretáceo.
Com a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos, o fim do cretáceo sinaliza para os cientistas o fim de toda uma era, a mesozóica, e o começo da atual, a cenozóica, na qual os mamíferos como o homem dominam a cena.
A vida no "Parque Cretáceo" não tinha apenas um, mas três enormes carnívoros como árbitros: o Tyrannosaurus na América do Norte e Ásia, o Carcharodontosaurus na África, e outro animal parecido, o Gigantosaurus, na América do Sul. Uma das novidades da pesquisa é mostrar essa "previamente não reconhecida radiação global" dos predadores.
"Uma das coisas interessantes é que esses grandes dinossauros carnívoros não estavam no mesmo continente", disse Sereno.
Igualmente interessante, pelas suas características, é o fato de os três serem parentes, mas que evoluíram separadamente e de modo parecido em regiões distintas.
Geralmente há apenas uma grande espécie de carnívoro num habitat -como o leão na África ou o tigre na Ásia. "Um leão requer um território grande e muita comida", afirmou Sereno. Um dinossauro comedor de carne deveria comer muito, e rapidamente, embora talvez com menor frequência.
O outro grande achado foram ossos de uma nova espécie, batizada Deltradomeus agilis, um carnívoro de uma linhagem paralela que poderia chegar ao tamanho de um pequeno tiranossauro, mas que era bem mais ágil. "São ossos que indicam que ele era rápido, o mais rápido entre os predadores."
O lugar já tinha sido escavado por um pesquisador francês há 50 anos, e parecia promissor. No passado distante havia ali uma foz de rio, que transportava os restos de animais ao local.

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