São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996 |
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Encontro ataca 'notícia como espetáculo'
JOSÉ GERALDO COUTO
O evento foi promovido pelo Laboratório de Jornalismo da Unicamp (Labjor), junto com a Fiesp. O ministro Paulo Renato de Souza, da Educação, convidado, não compareceu. Tanto o diagnóstico das escolas de jornalismo como o das práticas atuais mais comuns da imprensa foram bastante críticos. Pela manhã, o deputado federal Tilden Santiago (PT-MG), o editor-chefe da Agência Jornal do Brasil, Luiz Antonio de Farias, a professora de jornalismo Marialva Barbosa (Universidade Federal Fluminense) e a estudante Marlusa Matos (representante da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social - Enecos) falaram sobre a situação precária das escolas de comunicação no Brasil e atacaram a proibição de estágio para estudantes de jornalismo nos veículos de comunicação. A exigência legal do diploma de jornalista para o exercício da profissão não foi questionada por nenhum dos debatedores. O deputado Tilden Santiago disse ser um "defensor não-xiita do diploma". Farias, da Agência Jornal do Brasil, disse não ter opinião formada sobre o assunto. As discussões se concentraram no tipo de formação que as escolas devem oferecer aos futuros jornalistas. Para a professora Marialva Barbosa, "não é papel da universidade ser uma escola técnica profissionalizante", e sim fornecer um material reflexivo que habilite o jornalista a exercer de maneira crítica e responsável sua atividade. O deputado Tilden Santiago e o professor de jornalismo Guy de Almeida (PUC-MG), que estava na platéia, defenderam a necessidade de complementar a formação humanista e crítica proposta por Marialva com uma formação técnica moderna e adequada. Com relação ao estágio -proibido por lei desde 1979-, a intervenção mais contundente foi da estudante Marlusa Matos. Segundo ela, a desculpa de que o estágio "avilta o mercado de trabalho" não é válida: "O estágio já avilta o mercado, independentemente da lei. Em alguns casos, chegamos a trabalhar 12 horas por dia numa redação, sem remuneração". Vícios da imprensa Para Marlusa, a solução para esses abusos seria a regulamentação do estágio, com o estabelecimento de cargas horárias, remuneração mínima etc. No debate previsto para a tarde, "Vícios e Virtudes do Jornalismo Brasileiro", discutiram-se quase exclusivamente os vícios. Clóvis Rossi, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, abriu o debate atacando aquele que seria o mote principal da tarde: a "espetacularização do jornalismo brasileiro". Segundo Rossi, os jornais brasileiros estão sendo contaminados pelo "jornalismo-espetáculo" da televisão. "A mídia impressa está cada vez mais pautada pelo telejornal e especificamente pelo 'Jornal Nacional'." O jornalista e senador Artur da Távola (PSDB-RJ) aprofundou a questão, fazendo uma longa análise do recurso ao expressionismo e ao hiper-realismo no tratamento dado pela mídia aos fatos. Segundo ele, "a notícia herdou da dramaturgia elementos como tensão dramática; estados extremos do ser; identificação com heróis ou vilões; simbologia do bem e do mal" etc. Sandro Angelo Vaia, diretor da Agência Estado, atacou também a "espetacularização e vulgarização da notícia, pecados recorrentes de um jornalismo preguiçoso e superficial". Criticou ainda o oficialismo: "A imprensa tem que deixar de se embalar pelo entediante balé do poder e debruçar-se sobre o país real, para poder explicá-lo e, antes disso, entendê-lo". Texto Anterior: PT quer fim de paralisação em Brasília Índice |
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