São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996 |
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Finlandês surpreende
LEON CAKOFF
Kaurismaki é conhecido pelas emoções calcificadas dos seus personagens, mesmo que sejam paródias de cantores de rock como os da série "Cowboys de Leningrado", que já rendeu três filmes. Desta vez o seu filme tem um "happy end". A sua atriz fetiche Kati Outinen, que ele consagrou num filme anterior -"A Mocinha da Fábrica de Fósforos"-, repete o tipo de expressões minimalistas, traída pelos falsos brilhantes da pós-modernidade. Ela é Ilona, maŒtre de um restaurante falido de nome iugoslavo: Dubrovnik. Como o marido, um motorista de ônibus (Kari Vaananen), ela logo deve enfrentar os sabores do vácuo existencial provocados pelo grande vilão dos tempos modernos que Kaurismaki insiste em retratar: o fantasma do desemprego. Vemos o casal se esvaindo aos poucos. Nos gestos mecânicos do cotidiano, nos pequenos prazeres domésticos e na pobre conta bancária. Resistindo sem muita imaginação contra a humilhação, o casal sonha em ter seu próprio negócio, um pequeno restaurante talvez, mas vai se entregando ao desespero de sobreviver e aceitar qualquer trabalho. Desde o cinema alemão de Fassbinder não se tinha uma obra tão implacável com a realidade. O final feliz do filme, onde os sonhos não se frustram, é inacreditável. Kaurismaki ironiza o próprio sentido do "happy end" padronizado pelo cinema convencional. Como o próprio Kaurismaki define em uma simples frase, o seu cinema é "sobre gente fora da moda que vive em um mundo moderno." Com a espantosa quantidade de lixo escapista que se tem a cada temporada cinematográfica, as nuvens de Kaurismaki são o melhor conforto para as legiões de perdedores que nunca terão suas vidas contadas pelo cinema. Texto Anterior: Para Ballard, "Crash" supera o seu livro Próximo Texto: Rock; "Transpotting"; Lucas; "Evita" Índice |
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