São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Para Ballard, "Crash" supera o seu livro

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O escritor britânico J. G. Ballard abriu ontem uma exceção em sua vida reclusa para participar com visível nervosismo da entrevista coletiva sobre o filme "Crash" (Colisão), extraído por David Cronenberg do romance publicado há 22 anos.
Ballard é mais conhecido no Brasil pela adaptação cinematográfica de seu romance autobiográfico "Império do Sol" (1987), realizada por Steven Spielberg.
"Ver o filme foi um nocaute", afirmou Ballard. "Cronenberg foi além do livro. Seu filme não se preocupa em justificar, através de uma trama tradicional, os desvios sexuais dos personagens".
"Crash", um pesadelo erótico sobre a obsessão sexual desenvolvida por vítimas de acidentes de carros, levantou a maior polêmica do festival.
O desconforto frente às cenas de sexo, com forte acento sadomasoquista, foi comentado na coletiva pelo protagonista, o ator americano James Spader.
Medo
"O medo alimenta o filme, é o sangue de 'Crash'. Foi o mesmo medo que senti ao ler o roteiro, depois o livro, e durante as filmagens. É o que o torna mais intrigante".
Para Cronenberg, "as cenas de sexo são o filme. Todas as coisas importantes são reveladas através delas. Para mim, não foram sequer uma questão. Eram o que o filme exigia".
"Uma nova sexualidade está nascendo", prosseguiu o diretor canadense.
"Ela não está mais ligada à reprodução. Livre das motivações naturais, cabe ao homem inventar a sexualidade, torná-la uma obra de arte, uma tecnologia ou outra coisa".

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