São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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Gênero significa a volta do balanço

JÚLIO MEDAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar de possuir fontes de matérias-primas musicais, o Brasil, em sua relação com o desenvolvimento das grandes máquinas de comunicação, não se comportou diferentemente de outros países.
Parece que a grande indústria cultural do mundo se preocupou mesmo foi com a ampliação da máquina e o marketing.
A grande verdade é que a expansão do repertório e da música de qualidade, e o nível de informação mais elevado, estão cada vez mais distantes dos grandes meios de comunicação.
Assim sendo, a abertura do mercado para o samba, através de vários conjuntos, não significa a abertura de repertório e sim uma substituição de um gênero por outro. Sai sertanejo e entra o pagode.
O conjunto Raça Negra representa muito bem essa ponte. Se musicalmente eles fazem um trabalho que em nada difere de um conjunto de pagode da zona norte carioca, suas letras têm muito a ver com o jargão da "dor de cotovelo" das chamadas duplas caipiras.
Na verdade o adolescente das grandes cidades passou toda sua vida sem ouvir um único samba, ligadão que estava no som das FMs ou das discotecas.
Shows de samba desses grupos conseguiram abrir um buraco nessa parede multinacional sonora, ou no trágico desses bolerões verborrágicos e melodolorosos das duplas sertanejas; já se vê as pessoas, ao invés de ficarem estáticas balançando os braços, tentarem recuperar o balanço da bunda.
Vai levar algum tempo mas, segundo me assegurou Gilberto Gil, o balanço pode estar adormecido mas pode ser novamente aflorado.

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