São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O balanço só está adormecido

JÚLIO MEDAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se musicalmente o conjunto Raça Negra faz um trabalho que em nada difere da espontaneidade de um conjunto de pagode de fundo de quintal da zona norte carioca, suas letras têm muito a ver com o jargão da "dor de cotovelo" das chamadas duplas caipiras.
Quando a gente se imagina livre do gênero "ninguém me ama/ninguém me quer", é só a MPB passar por uma fase menos imaginativa, ele está de volta.
Sobretudo nas décadas ímpares: 50 com o "samba canção" e o bolero, 70 com a geração das Simones e Joanas e nos anos 90 com os Chitãozinhos & Leonardos.
Apesar dessa característica meio "sambanejo" do Raça ou da simplicidade musical desses inúmeros grupos de samba que apareceram recentemente, podemos dizer que algo curioso aconteceu.
Na verdade o adolescente das grandes cidades passou toda sua vida sem ouvir um único samba, ligadão que estava no som das FMs. É só ver programas como os do Serginho Groisman ou Faustão.
Quando os apresentadores mandam a galera levantar e dançar com alguns desses grupos de samba, nota-se que essa geração não tem jogo de cintura, não rebola e perdeu a movimentação espontânea do corpo que era tão característica de nossa musicalidade.
Vai levar algum tempo mas, segundo me assegurou Gilberto Gil, o balanço está adormecido mas pode ser aflorado. Isso se nenhum trator do lixo musical americano passar de novo por cima dessa geração...

Texto Anterior: Gênero significa a volta do balanço
Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.