São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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PODER SEM QUERER

Há dois tipos de dificuldades comumente associadas à privatização.
Há por exemplo quem diga que uma siderúrgica é mais fácil de privatizar do que uma empresa de telecomunicações ou de energia. Privatizar serviços depende de novas políticas tarifárias e de fiscalização cuja formulação será demorada.
Outro argumento, financeiro, lembra que tudo se complica com o uso das chamadas "moedas podres".
Embora meritória, essa análise é perigosamente incompleta. Pois falta apontar a falta de apetite político.
O imbróglio federal tornou-se patético nos últimos dias. Ouve-se com frequência impressionante a palavra "adiar" quando se trata de privatização, das versões desencontradas sobre o leilão da Light ao adiamento efetivo da privatização do Banco Meridional no Rio Grande do Sul.
O governo federal é igualmente leniente quando se trata das propostas de regulamentação do setor elétrico ou dos combustíveis. Pois deixa que a própria corporação estatal desenhe as regras dos setores a privatizar.
Já o governo de São Paulo vem dando mostras impressionantes de inapetência. O fracasso do leilão da Ceagesp não pode ser atribuído a uma abstrata falta de compradores.
Afinal, como conceber que se coloque à venda uma empresa cujo terreno é garantia de empréstimo junto ao Banespa, sob intervenção federal? A tentativa de privatização não foi antecedida de procedimentos mínimos que tornassem a operação viável.
O empenho do governador junto à Assembléia para deslanchar a privatização também deixa a desejar.
Sem falar no empréstimo para sanear o Banespa que, tudo indica, mesmo aprovado pelo Senado enfrentará ainda muitas pendências políticas, jurídicas e financeiras.
Novamente, teria sido tudo mais fácil e menos custoso se o banco estadual tivesse sido privatizado.
Querer é poder. Mas a privatização não anda porque parece faltar empenho aos que estão no poder. Ou não se empenham com o devido vigor.

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