São Paulo, sábado, 18 de maio de 1996
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CONTABILIDADE MACABRA

Para os mais pragmáticos, o fisiologismo, obviamente condenável, é uma prática corrente, e mesmo inevitável, nas relações entre Executivo e Legislativo, dentro, é claro, de certos limites. Mas no que diz respeito ao presente cenário político brasileiro, é possível que alguns daqueles que se mostram mais benevolentes com a Realpolitik estejam indagando se o "trade-off" nas atuais negociações do Planalto com o Congresso não estaria apontando para um momento futuro em que os custos lamentavelmente começarão a ultrapassar os benefícios que deseja obter.
Até o momento, as ações "pragmáticas" do governo federal já envolveram recursos da ordem de R$ 15,6 bilhões, ainda que se estime que o rombo provável superará em muito a R$ 40 bilhões. Os objetivos foram o andamento da reforma previdenciária, a aprovação do Orçamento de 96, mudanças na ordem econômica e no IR, prorrogação do FSE, o bloqueio às investigações sobre o Sivam e a custosa terapia de apoio ao sistema bancário, ainda em curso.
O custeio dessas iniciativas assumiu várias formas, como a liberação de recursos do Tesouro, o aval para empréstimos externos, a federalização de dívidas estaduais e municipais, a renegociação de débitos de ruralistas e empréstimos do Proer.
O que parece muito questionável é se os montantes que inicialmente o governo desejava economizar, com as reformas já votadas ou que ainda serão submetidas ao Congresso, serão afinal superiores, ao menos em curto e médio prazos, aos custos implicados nas negociações políticas.
Considerando que o Planalto ainda tem pela frente duas importantes votações -das reformas administrativa e tributária- cujo custo deverá ser bastante elevado, é por enquanto de se temer que os débitos venham a superar os créditos.
Mais inquietante ainda é a possibilidade de que um governo inicialmente comprometido (ao menos em tese) com o imperativo de austeridade nas contas públicas não venha encontrando condições de se precaver contra esse trágico desfecho.

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