São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC detectou fraudes no Nacional em 89

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Inspetores do BC (Banco Central) verificaram, já em 1989, que o Banco Nacional cometia a irregularidade de manter empréstimos vencidos há mais de 360 dias como receita.
Em janeiro de 1992 essas operações chegavam a "expressivos Cr$ 2,209 bilhões", conforme ficha de informações do BC sobre o Nacional obtida pela Folha. Hoje, esse valor equivale a US$ 1,968 milhão.
Ao não lançar no balanço as operações inadimplentes como débito, o Nacional supostamente evitava contabilizar um prejuízo e gerava um lucro maior do que o real. Essa é uma forma de maquiar o balanço do banco.
Na ficha de informações do Nacional esse tipo de irregularidade é verificada em mais de uma inspeção realizada pelos fiscais do BC.
O BC investiga hoje a existência de 652 contas que tinham seus valores manipulados e, com isso, possibilitavam a apresentação de um balanço positivo.
O valor dessas operações chega a cerca de R$ 5,3 bilhões.
Receita de prejuízo
A legislação determina que devem ser lançados como créditos de difícil liquidação operações vencidas há mais de 360 dias, de pessoas físicas e jurídicas do setor privado e com garantias consideradas suficientes pela instituição financeira.
Para os créditos de difícil recuperação deve ser feita provisão e o valor referente a devedores duvidosos é contabilizado como prejuízo.
Na inspeção realizada de 29 de novembro de 1989 a 25 de abril de 1990 consta que o Nacional não tomava essa providência.
O banco da família Magalhães Pinto também fazia uma operação inversa: trazia para contas de origem, sem qualquer justificativa técnica, valores já lançados como crédito em liquidação. Essa é outra forma de um prejuízo se transformar em receita.
Empréstimos no escuro
Foram encontradas no Nacional, em inspeção realizada em 12 de julho de 1991, operações de crédito com "favorecimento" de taxas a empresas inadimplentes.
O aval era dado por um cliente também inadimplente. Quando um banco reforça empréstimos a inadimplentes está gerando uma receita fictícia.
Também consta, na inspeção de julho de 1991, a concessão de empréstimos a empresas públicas sem a apresentação de garantias, sem informações cadastrais, ou então dados desatualizados.
Ou seja, financiamentos eram liberados sem que o banco soubesse quais as condições dos devedores.
Com o setor privado foi detectado que as operações de crédito eram realizadas sem apresentação da documentação necessária ou a empresas que possuíam restrições na Serasa (Centralização de Serviços dos Bancos S/A).
Na Serasa fica registrado o nome das empresas que tenham cometido algum tipo de irregularidade junto às instituições bancárias.
A inspeção de 1991 também aponta "a não inscrição em operações de crédito em liquidação de inúmeras operações". Não é informado o número de operações nessa situação e nem o valor.

Texto Anterior: Na língua e na rede
Próximo Texto: Simulação já indicava quebra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.