São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Aprovação a FHC desce para 25% em SP

JOSIAS DE SOUZA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

A popularidade de Fernando Henrique Cardoso sofreu uma queda inédita e expressiva na cidade de São Paulo, seu domicílio eleitoral. Em pouco mais de 60 dias, a taxa de aprovação do presidente despencou 13 pontos percentuais.
O movimento foi detectado pelo Datafolha, em pesquisa realizada na última quarta-feira.
Apenas 25% dos paulistanos aprovam o governo. O índice era de 38% em março deste ano. Antes da posse, 68% esperavam que Fernando Henrique fizesse uma administração ótima ou boa.
A taxa de reprovação (quantidade de pessoas que classificam o governo como ruim ou péssimo) subiu de 24% para 33%. A variação -nove pontos percentuais- está bem acima da margem de erro da pesquisa, de três pontos.
Cresceu também o contingente de paulistanos que acha a gestão tucana apenas regular: 42%, contra 37% em março.
O Datafolha ouviu 1.080 pessoas. O súbito decréscimo do prestígio do presidente contamina todos os segmentos cobertos pelo levantamento. Veja os números mais reveladores da pesquisa:

Queda foi de
16 pontos percentuais na popularidade de FHC entre os paulistanos mais pobres, com renda familiar de até dez salários mínimos (R$ 1.120,00).

Foi a faixa em que se registrou o maior tombo.
A aprovação ao governo caiu de 35% em março para 19% agora.
O presidente e seus ministros costumam gabar-se do prestígio do governo na base da pirâmide social. O raciocínio não encontra mais amparo nos números.
Entre os que possuem renda de 10 a 20 salários mínimos, a aprovação caiu de 39% para 26%. Na faixa acima de 20 mínimos, a queda foi de 45% para 37%.

Uma legião de
74% acha que o governo está dando menos atenção do que deveria à área social.

O dado oferece a principal explicação para a repentina queda de prestígio de Fernando Henrique. O Palácio do Planalto vem sendo sistematicamente acusado de tratar com excessiva generosidade banqueiros e ruralistas, em detrimento de grupos menos organizados e com menor poder de barganha. Só 19% das pessoas ouvidas acham que o governo dá atenção na medida certa aos problemas sociais. Para 4%, se dá mais atenção do que deveria ao tema.

Descobriu-se que
69% acham que FHC deveria priorizar educação, saúde e habitação.

O número indica que o Plano Real, sozinho, já não basta para manter a popularidade do presidente da República nas nuvens, como se verificava em meses anteriores.
A sociedade, pelo menos a paulistana, passa a exigir do governo do PSDB também o resgate da chamada dívida social.

Ao mesmo tempo,
47% afirmam que o governo dá menos atenção do que deveria à economia.

Para 28% a atenção dispensada está correta. E 21%, taxativos, dizem que se deveria dar mais atenção à área econômica.
Vê-se, pelos números, que, a despeito de exigir melhor desempenho do governo na área social, o paulistano não admite que o governo descuide dos aspectos econômicos. Problemas eventuais na administração do Plano Real podem aumentar a erosão que atinge os índices de popularidade de Fernando Henrique.
Curiosamente, a maioria dos entrevistados de menor renda (53%) avalia que FHC deveria dar mais atenção à área econômica.

Quando o tema é terra,
83% dos paulistanos se dizem favoráveis à implantação da reforma agrária.

Isso coloca o problema fundiário no topo das preocupações da população.
Os pesquisadores perguntaram quem é responsável pela má distribuição de terras no Brasil. A maioria, 52%, acha que o governo é o maior responsável.
Para 20%, a culpa é dos grandes fazendeiros. Outros 10% responsabilizam os grandes empresários. Há 10% de entrevistados que atribuem a culpa a todos esses setores.

Sobre massacre do Pará,
45% desaprovaram o desempenho de Fernando Henrique.

Um terço considerou regular a atuação do presidente da República diante do caso. E apenas 12% aprovaram sua forma de agir. Em outros tempos, a imagem do presidente passava incólume pelas crises. Sobreviveu, por exemplo, ao caso Sivam e ao escândalo da pasta rosa.
O desgaste proporcionado pela morte de 19 trabalhadores sem terra em Eldorado do Carajás é mais uma demonstração de que o Real já não serve de escudo de proteção para a imagem de FHC.

Comunidade Solidária
66% ignoram a existência do programa social do governo tucano.

Apenas 34% ouviram falar da principal iniciativa do governo na área social.
Entre os que tomaram conhecimento do programa, 54% o consideram um pouco eficiente, 30% acham que não é nada eficiente e só 2% apostam em sua total eficiência. O Comunidade Solidária está sob intenso tiroteio. Três pessoas abandonaram o conselho do programa, entre elas o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Todos inundaram a mídia de críticas ao "descaso" com que o governo trata a causa social.

Sobre Ruth Cardoso,
16% avaliam de forma positiva seu desempenho no Comunidade Solidária.

Outros 20% a desaprovam por completo. Um terço das pessoas ouvidas não soube avaliar.
Mesmo no interior do governo são fortes as queixas quanto à atuação da primeira-dama. O primeiro a alfinetá-la foi o ministro Sérgio Motta, das Comunicações. Disse que o programa que dirige era pouco ativo, vítima de "masturbação sociológica".
No momento, o Palácio do Planalto trabalha na reformulação do setor social do governo. Planeja-se esvaziar o Comunidade e criar uma supersecretaria social, acima do programa da primeira-dama.

4,8 a nota média que os paulistanos dão para o governo FHC. Dezesseis por cento deram nota zero.

Escassos 4% mencionaram a nota máxima. Quando separados por preferência partidária, 30% das pessoas que se declararam simpatizantes do PSDB, partido do presidente, deram nota seis para Fernando Henrique; 35% das pessoas ouvidas acham que o governo FHC piorou. Só 12% consideram que houve melhora. A grossa maioria, 52%, acha que tudo está na mesma.

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