São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Piauí joga água fora

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Grande parte de um dos Estados mais secos do Nordeste, o Piauí, repousa sobre um mar de água doce. Dois aquíferos superpostos garantem poços que jorram o ano todo em boa parte do chamado Polígono das Secas.
No sul do Estado, donos de terra perfuram poços para irrigar pequenas plantações. "São dezenas de poços abertos e desperdiçando água", diz Esdras Pinheiro, geólogo da Agespisa, empresa de águas e esgotos do Piauí.
O poço Violeta, que chegou a jorrar água a 60 metros de altura, é considerado um dos maiores da América Latina. Desde que foi aberto, nos anos 80, mais de 70 bilhões de litros de água se perderam no agreste.
Os mananciais do Piauí e do Maranhão fazem parte da bacia do Meio-Nordeste ou do Parnaíba. As formações ou aquíferos conhecidos como Serra Grande e Cabeças são os mais produtivos.
Califórnia
O geólogo Aldo Rebouças, que fez um estudo sobre as águas subterrâneas dessa região, diz que o Piauí tem a segunda maior bacia subterrânea do país, com tamanho equivalente ao da França.
"O Piauí é uma Califórnia elevada a dez", diz Rebouças. Para ele, o Estado do Piauí, como outros do Nordeste, ainda sofre com a "política da seca".
Segundo Pinheiro, 90% das cidades do Piauí são abastecidos por água de poço. Em todo o Nordeste, no entanto, a manutenção das bombas é extremamente precária. "Quando uma bomba quebra, vilas e cidades chegam a ficar seis meses sem água", diz Rebouças.
Em capitais nordestinas onde a falta de água é constante, quase todos os edifícios têm poços. Mais de 80% da água consumida em Natal (RN) vem do subsolo.
Como ocorre em todo o país, os Estados do Nordeste não têm controle algum sobre os poços abertos. "Não sabemos quantos temos no Piauí", concorda Pinheiro.
(AB)

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