São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Reformas e emprego

ANTONIO KANDIR

Em nenhum outro momento nos últimos 40 anos estivemos em condições de fazer afirmações tão taxativas sobre a inflação: o risco de esta voltar a elevar-se significativamente nos próximos três anos, fazendo girar de novo a catraca da indexação, é próximo de zero. Vale dizer, a possibilidade de fracasso abrupto do Plano Real está fora do horizonte, quer por conta do nível de reservas internacionais, quer por conta dos importantes avanços na desindexação da economia ao longo destes quase dois anos de estabilidade.
Isso significa que as reformas constitucionais deixaram de ser importantes para o futuro do Plano Real? De modo algum. Sem elas, a estabilização não morrerá de morte abrupta, mas de morte lenta, decorrente de níveis reduzidos de investimento, baixas taxas de crescimento econômico, elevação do desemprego e agravamento da situação social. Não é difícil perceber por quê.
Sabemos que o investimento é o motor da economia, dele dependendo diretamente o crescimento econômico e a expansão do emprego (não obstante as mudanças que novas tecnologias e formas de produção provocaram na relação entre investimento e emprego). Pois bem, a propensão a investir é função da taxa de retorno esperada. Quanto maior a incerteza futura em relação aos custos, maior a taxa de retorno exigida, no momento da tomada de decisão, para realizar-se o investimento, e, por consequência, menores as possibilidades de que o investimento venha efetivamente a concretizar-se.
A não realização das reformas significa exatamente isso: a expectativa de que mais cedo ou mais tarde, para tentar fechar suas contas, o governo aumentará tributos e terá de praticar juros crescentes para financiar seu déficit, elevando os custos na economia e reduzindo a taxa de retorno.
Na relação entre reformas, investimento, crescimento e emprego, portanto, reside a razão de serem indispensáveis as reformas constitucionais. Dizer que elas são indispensáveis, no entanto, não equivale a dizer que, se não forem aprovadas dentro deste ou daquele prazo (exercício de adivinhação dos quais muitos gostam de tomar parte), o círculo vicioso descrito acima estará definitiva e irremediavelmente instalado.
Mas significar dizer, isto sim, que seria fatal deixar morrer o impulso de reformas, e que, nesse particular, parafraseando os locutores esportivos, "jogamos contra o relógio".

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