São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Sem craques, Parreira vai optar por retranca

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Queria dizer que mestre Armando Nogueira, outro dia, molhou sua pena num pote de cicuta, antes de escrever um fino e cruel recado a Carlos Alberto Parreira, para que o campeão do mundo em futebol de resultados não voltasse à pátria dos gols tão cedo.
Mas, nestes tempos de performática informática, a imagem já nasce desfocada. Digamos, então, que o mestre enviou um raio laser, de efeito inócuo. Afinal, Parreira está para chegar no Morumbi.
Nem mesmo estou convencido de que Parreira seja o fiel seguidor da mesquinha e cinzenta tática adotada por seu time na Copa dos EUA, que lhe conferiu o título e o estigma de retranqueiro.
Explico: aqui mesmo, saudei por várias vezes a ousadia de Parreira, durante pelo menos os dois ou três anos que precederam à Copa, ao montar um time ofensivo. Lembram-se? Por várias vezes, a seleção de Parreira, nesse período, chegou até a jogar com apenas um volante -Mauro Silva- e três meias -Zinho, Luís Henrique e Raí.
Foi lá na Copa, já nos treinos em San José, que o técnico se aferrou ao esquema que lhe garantiu o mais opaco de todos os títulos mundiais da história. Menos, creio, em razão do esquema e muito mais por consequência da timidez de Raí e de Zinho, que caíram na mais profunda abulia.
Mas essas são imagens tão velhas quanto à do mestre molhando sua pena na cicuta. Que se renovarão em cores vivas, no sistema digital, caso o São Paulo não providencie, urgentemente, meia dúzia de craques verdadeiros para compor um time à altura do renome de Parreira. Pois, se ele tiver que trabalhar com o elenco que aí está, não lhe restará outra saída se não a de acatar o conselho do mestre.
*
Revolução no Parque, depois da triste e antecipada derrota diante do Grêmio, o que praticamente sepulta as esperanças alvinegras na Libertadores: caem o técnico, o auxiliar e o supervisor. Revolução?
Não vou defender a permanência de Amorim, posto que ele também tem responsabilidade na tentativa de abarcar o mundo com as duas mãos.
Além do mais, em quatro ou cinco meses, jamais deu ao Corinthians um padrão de jogo compatível com as ambições desse time. Rigorosamente, não vi uma grande exibição desse Corinthians na atual temporada, a não ser esta ou aquela, por força da tradição de sua camisa ou do talento deste ou aquele jogador.
Mesmo antes de o time mergulhar na sequência de jogos que lhe dá uma média de uma partida a cada dois dias.
Contudo, a maior culpa é da diretoria de futebol. Mais precisamente: Zezinho Mansur, o vice-presidente de futebol, responsável pela planificação do seu setor no clube. Errou do início ao fim: na decisão de se fazer a pré-temporada em Caraguatatuba (pleno verão, à beira-mar); na contratação de jogadores (até hoje, desde a saída de Viola, o Corinthians não tem um centroavante); no estabelecimento de um código disciplinar funcional etc.
Por fim, errou em não substituir, a tempo, o técnico em quem não confiava desde sempre. Esse, a revolução não decapita, né?

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