São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Euromercado

SÍLVIO LANCELLOTTI

Chega ao fim a temporada clubística de 1995/96 no Velho Continente. E a Sentença Bosman já começa a demonstrar os seus efeitos. Nunca, antes, na Europa, tantos atletas trocaram de clube em tão pouco tempo. Só na Itália já vão além de 50 as grandes negociações.
Curiosamente, valorizaram bem mais os seus contratos alguns jogadores ainda sem o chamado passe livre. A lei da oferta e da procura explica.
O excesso de liberados no mercado rebaixou as suas cotações. Por outro lado, ironicamente, se tornaram caríssimos os craques cujos contratos vencerão em 1997 e até mesmo em 1998. No caso, explico eu.
Aconteceu o mesmo fenômeno em meados da década de 70, nos EUA, quando a Justiça acabou com o passe no beisebol.
Preocupados em perder os seus investimentos, os clubes desandaram a ceder os seus astros de contratos em fase de encerramento. Com tal dinheiro, poderiam ampliar os contratos das suas promessas.
Exemplifica perfeitamente o fenômeno o caso de Enrico Chiesa na Itália.
Por uma ninharia, o avante se transferiu da Cremonese à Sampdoria em junho de 95. Bem antes de se desvincular, a Samp decidiu cedê-lo ao Parma por uma fortuna absurdíssima: total de US$ 32 milhões.
Dessa grana, o artilheiro ficará com US$ 15,3 milhões. Patético contraste: por um pouco menos, cerca US$ 15 milhões, os dois somados, o Parma está importando os brasileiros Cafu e Rivaldo, do Palmeiras.
Truque engenhoso: Cafu e Rivaldo jamais serão, efetivamente, atletas do Parma. Filustrias jurídicas, como a operação que levou Cafu do São Paulo ao Palmeiras, via Zaragoza e Juventude, manterão o lateral preso à patrocinadora Parmalat.
Uma escravidão no lugar de outra. Pior: Cafu e Rivaldo jamais obterão salários que lhes permitam, talvez, engraxar os sapatos de Chiesa...

Texto Anterior: Sem craques, Parreira vai optar por retranca
Próximo Texto: Recordes mundiais; O Parma de Ancelotti; Adeus, Eduardo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.