São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Bohr mostra como venceu Einstein

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O começo deste século presenciou mudanças profundas no mundo das idéias.
Exemplos são o movimento surrealista, a música dodecafônica e a fundação da psicanálise.
Nas ciências, a área mais fértil de pesquisas foi a física quântica -o mais importante campo de pesquisa da primeira metade do século -atualmente, destacam-se bioquímica, neurociências e ciências da computação.
O livro "Física atômica e conhecimento humano" reúne sete ensaios do dinamarquês Niels Henrik David Bohr.
O textos foram escritos entre 1932 e 1938 e entre 1949 e 1957. Entre os dois períodos, houve a Segunda Guerra Mundial 1939-45).
Bohr foi o mais importante "físico quântico" da história. Ele estabeleceu, em 1913, o primeiro modelo atômico consistente com o mundo dos quanta. Esse trabalho lhe valeu o Prêmio Nobel de 1922.
Mas o seu maior mérito e, também sua maior fonte de prestígio, foi ter vencido o mais importante debate conceitual da física moderna, travado com o teuto-americano Albert Einstein.
Esse é o tema do quarto e maior extenso ensaio deste livro. "O debate com Einstein" foi escrito por Bohr para o volume dedicado ao colega em uma coleção sobre filósofos.
O cerne do debate entre os dois era a essência da natureza. Os resultados experimentais levaram à formação de uma teoria que dizia ser impossível dissociar, no nível atômico, o observador do objeto de observação.
Essa associação derrubava o conceito clássico de causalidade.
Segundo um grupo de cientistas, entre eles Bohr, o máximo de segurança que se poderia obter sobre um fenômeno era sua probabilidade de ocorrer.
Mas outro grupo, liderado por Einstein, defendia a causalidade como um princípio fundamental da natureza. Para eles, a formulação estatística da física quântica era um modelo capaz de fornecer resultados corretos, mas conceitualmente furado.
Embora ainda existam pontos que ponham a visão de Bohr em xeque, os resultados experimentais tornaram-na a explicação mais aceita.
Os demais artigos no livro são discursos, a maioria feitos em congressos de cientistas de outras áreas, como biologia e ciências humanas.
Neles, Bohr tenta estabelecer as novas perspectivas para as demais ciências geradas pelo desenvolvimento da física e também os limites do uso da física quântica por outras áreas.
Por serem frutos de discursos, os ensaios abordam temas contemporâneos daquela época.
É interessante observar as mudanças no pensamento do físico dinamarquês a respeito de alguns assuntos.
Nos primeiros textos, Bohr ainda não mostra clareza sobre o uso prático da mecânica quântica -que vai das bombas nucleares aos computadores. Nos textos finais, em meio à Guerra Fria, ele mostra preocupação com a paz.
Mas o ponto comum dos textos é o impacto que a descoberta da face quântica da natureza iria ter para o conceito de conhecimento.
O livro é, por outro lado, penoso em alguma partes. Por terem sido concebidos para platéias de especialistas, os textos têm muitos trechos pouco acessíveis a pessoas sem formação superior em ciências naturais.

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