São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Verba britânica é argumento de unionistas

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL A BELFAST

Os unionistas, grupos protestantes que defendem a manutenção da Irlanda do Norte como parte do Reino Unido, estão trocando o discurso pró-integração política pelo pragmatismo econômico.
"O fato é que é muito melhor para o Ulster ficar dentro do Reino Unido por motivos de ordem financeira e econômica", disse à Folha David Trimble, presidente do Partido Unionista do Ulster, o maior da região.
Trimble acredita que uma eventual unificação com a República da Irlanda empobreceria o país. "Nós temos um nível social britânico, não irlandês -que significa mais pobreza, menos educação", disse.
Segundo o governo britânico, entram por ano na Irlanda do Norte entre US$ 4,5 bilhões e US$ 10 bilhões vindos da Coroa como retorno de impostos e investimentos governamentais. Moram na Província 1,6 milhão de pessoas.
A Comissão Européia aprovou, depois do cessar-fogo de 1994, dotação de US$ 360 milhões para ajudar a região em seu processo de paz. "OK, não é pouco dinheiro. Mas não é nada perto do que temos junto aos britânicos", disse.
Cenário alemão
"Além disso, sem a ajuda do Tesouro britânico, teríamos de ir atrás de fundos. Isso levanta outro problema: será que o eleitorado em Dublin quer pagar esta conta, assim como a metade rica da Alemanha pagou a conta -e está pagando- para se reunificar com a metade pobre?".
O "cenário alemão" praticamente não foi discutido ainda nas conversações abertas sobre a paz na Irlanda do Norte.
O desemprego é o grande problema: na Irlanda chega a 20%, um dos maiores da Europa, enquanto é de 8% na Irlanda do Norte, segundo o governo.
Em conversas reservadas nos partidos unionistas, é corrente o comentário de que o governo da República da Irlanda não quer pagar o preço da reunificação.
O país tem 3,5 milhões de pessoas e um PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas e serviços produzidos durante o ano no país) de US$ 38 bilhões.
Os nacionalistas reagem com argumentos não-econômicos. "Teremos algumas dificuldades, mas enfim é uma questão política, e não econômica, que está em jogo", disse Bobby Lavery, vereador e líder político do Sinn Fein em Belfast.
Por outro lado, os unionistas não estão satisfeitos com a posição atual. "Precisamos de um governo próprio. Queremos ficar no Reino Unido, mas com autonomia semelhante à que Escócia e País de Gales têm", diz um dos secretários-gerais do Partido Unionista do Ulster, David Kerr.

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