São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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NAU FRÁGIL

A pesquisa Datafolha publicada na edição de hoje sobre a avaliação que os paulistanos fazem da gestão Fernando Henrique Cardoso é extremamente preocupante para o governo. Pela primeira vez, FHC tem um índice de ruim/péssimo (33%) superior ao de ótimo/bom (25%).
E mais, não se pode atribuir essa inversão a uma suposta elite econômica irritada com a taxa de juros e a abertura comercial. São justamente os mais pobres (renda familiar até 10 salários mínimos) que foram mais contundentes na avaliação negativa do governo. Nessa faixa, FHC perdeu 16 pontos percentuais de ótimo/bom em relação à pesquisa realizada em 22 de março e teve um acréscimo de 18 pontos no índice de ruim/péssimo. Já entre os paulistanos com renda superior a 20 mínimos, esses números são, respectivamente, 7 e 11.
Não resta a menor dúvida de que o controle da inflação foi um alívio para o país e favoreceu principalmente os mais pobres. Parece porém que a contenção inflacionária é uma nau frágil demais para sustentar indefinidamente a popularidade de um presidente, sobretudo quando crescem o desemprego e a inadimplência, impõe-se um arrocho de crédito bastante acentuado, concede-se ao salário mínimo um reajuste inferior à inflação, e o governo transmite uma sensação de paralisia.
O massacre dos sem-terra no Pará também pode ter contribuído para o desgaste, uma vez que 91% dos paulistanos tomaram conhecimento do fato e 45% reprovaram o comportamento de FHC no episódio.
O caminho para o presidente resgatar o prestígio de seu governo é indicado pela própria população: dar prioridade à área social. Para 74% dos entrevistados, essa área vem recebendo menos atenção do que deveria. Essa porcentagem cresce para 81% entre os simpatizantes do PT e -pasme- para 83% entre os que preferem o PSDB. Fica o alento de que pelo menos os simpatizantes do partido do governo não perderam sua vocação social-democrata.

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