São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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O cúmplice do arcaico

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Se há, de fato, uma distinção entre o Brasil arcaico e o Brasil moderno, o retrato acabado do arcaico está nas imagens da tropa ruralista (bancada já não é um termo adequado) atravessando a rua diante do Palácio do Planalto, depois de "ganhar mais uma", como comemorou, com o cinismo de praxe, um de seus integrantes.
É o retrato do deboche com que os velhos "coronéis" brasileiros sempre se comportaram e seus descendentes repetem, com a única diferença de que trocaram as botinas pelo paletó e a gravata.
Mas, como seus avós, continuam mandando no país e desmoralizando as autoridades formais.
De quebra, levam ao ridículo o porta-voz da Presidência da República, embaixador Sergio Amaral, para quem houve "negociação", mas não "barganha" com os ruralistas. Quem o embaixador pensa que engana com essa tola pirueta semântica?
O paradoxal da história é que o arcaico está ganhando do moderno ou supostamente moderno. Ganhando em dois sentidos:
1 - O literal, financeiro. Levou a certeza de que o Banco do Brasil não vai conseguir cobrar os cerca de R$ 3,3 bilhões que uma fatia não maior do que 5% dos ruralistas brasileiros insiste em calotear.
2 - O político. Produzem a certeza de que o seu estilo de fazer política é o que dá resultados. Como é um estilo que nem o mais pesado adjetivo seria capaz de descrever com perfeição, atira-se a política no pântano.
Mas é injusto criticar apenas os ruralistas. O presidente cansou-se de ameaçar ir à TV para denunciar os "corporativistas" que se opõem às suas reformas supostamente modernizantes. Por que, então, não vai à TV para denunciar a chantagem desse pessoal? Ao ceder, virou cúmplice.

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