São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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Marisa Orth!

ALESSANDRA BLANCO

Os foras da personagem Magda são bola dentro das noites de domingo
Fala, Magda! É isso o que estão querendo os 3 milhões de paulistanos, em média, que esperam terminar o Fantástico, todo domingo, para ver Marisa Orth no programa "Sai de Baixo".
Ao contrário de seus companheiros, que insistem em mandá-la calar a boca durante todo o programa, quem está na frente do palco, assistindo ao vivo, ou em casa, pela TV, quer mesmo é ver qual será a próxima de suas falas. Coisas como tomar uma "atitude gástrica" ou ver um "filme de suspensório" e até um "çim: cê cedilha, i, m".
Trocar palavras ou misturar ditados não são exatamente novidade para Marisa Orth. É dela a frase "chupar o pau da barraca", que se tornou conhecida nos shows da banda Vexame, da qual também faz parte. Mas este era um outro contexto.
Hoje, o sucesso da burrice de Magda é quase uma surpresa para Marisa. "No começo, a Magda deveria ser a gostosa, fogosa e... tola. Mas agora, ela é uma anta. Está beirando a psicose. Sim, porque ela tem uma saúde mental duvidosa", diz, rindo. "E é o público que quer assim."
Burra? Fogosa? Gostosa? A Magda tem um pouco de tudo isso, diz Marisa. Mas, tarada, não. "Ela é romântica, tem desejos com o marido, e talvez até com alguém mais, e tem fantasias." É um pouquinho má também, daquela maldade e esperteza que "só as burras têm".
"A Magda é a prima da Nicinha (personagem de Marisa Orth na novela "Rainha da Sucata"). Mas a Nicinha era mais inteligente, era suburbana e corajosa, seria capaz de bater na Magda. Só que, depois, a Magda iria enfiar alfinetes nela."
E o que Marisa tem a ver com as duas? "Elas são o meu lado mais desencanado. Não estão aí com nada, usam roupas absurdas e se acham o máximo. São o meu lado calmo, que às vezes me surpreende. Ao contrário do nervoso, que já não surpreende mais", diz.
O humor
É o que marisa tem a ver com as duas? "Elas são o meu lado mais desencanado. Não estão aí com nada, usam roupas absurdas e se acham o máximo. São o meu lado calmo, que às vezes me surpreende. Ao contrário do nervoso, que já não surpreendemais", diz.
Na verdade, Marisa não sabe exatamente como foi cair nessas personagens e nos programas de humor.
Cursou a Escola de Artes Dramáticas (EAD), antes fez Psicologia na PUC, fez mais peças ditas "sérias" do que comédias, mas já na escola, fazia o maior sucesso nas aulas de sotaque, único momento "humorístico", se é que pode ser chamado assim, de todo o curso.
Claro, teve as participações nas bandas Luni e Vexame, que faz homenagem à música brega.
Não é difícil lembrar de Marisa apresentando o "programa de calouros", onde os homenageados especiais eram os cantores Odair José, Fernando Mendes ("Cadeira de Rodas") e Lilian. Ou então, simulando uma briga de casal na interpretação de "Siga Seu Rumo", da dupla Pimpinela.
Eles podiam até jurar que tudo aquilo era sério -ou melhor, é sério porque "Vexame não morreu, apenas está hibernando" e deve voltar em breve para shows em Manaus- e que o objetivo da banda era apenas mostrar as músicas que gostavam, melhorando ainda mais sua qualidade musical, mas era impossível não rir. (A própria Marisa diz que o bom mesmo é quando o público dá gargalhadas.)
Depois, teve a Nicinha, da "Rainha da Sucata", a chata noiva de Antônio Fagundes que acaba também virando a "gostosona" da novela depois de ter sido trocada por Claudia Raia, e a "TV Pirata".
"Deve ter uns diretores inteligentes por aí, alguém que pensa. No começo não acreditava que podia ser engraçada. Agora, acho que eles estão certos. Sou engraçada mesmo. Mas não estou me rendendo: ok, vocês venceram. Sou uma atriz, sou capaz de fazer várias emoções e sei fazer isso, por isso começaram a me chamar. Vai parecer falta de modéstia, mas, quando um ator é bacana, ele é tão bom para comédia como para a tragédia. Vai dizer que Chaplin só fazia comédia?"
Franqueza x antipatia
Não se pode negar que Marisa tem mesmo esse "dom" para a comédia e que, no teatro, é capaz de passar do humor para a emoção (e vice-versa) sem grandes dificuldades.
Ela mesma diz que seu trabalho tem um lado divertido, engraçado, espontâneo, e também tem um outro, que faz com que seja convidada para trabalhar com atores como Paulo Autran e Marília Pêra. Mas essa sua "franqueza" já lhe rendeu títulos de "antipática".
Há quem diga que da banda Vexame para a Magda, Marisa mudou, e bastante.
Desde a estréia do "Sai de Baixo", no final de março, aparecem nos jornais rumores de desentendimentos entre os seus participantes, principalmente com Tom Cavalcanti, um comediante entre cinco atores.
Marisa diz que é tudo intriga. "Nós temos noção de quanto o Tom é bom, ele tem noção de quanto nós somos bons, e todos nós sabemos de nossos defeitos", diz.
Para provar o quanto o relacionamento entre os seis é bom, ela anuncia que irão abrir um restaurante em São Paulo.
Miguel Falabella e Tom Cavalcanti serão os sócios majoritários. Luiz Gustavo, Aracy Balabanian e Claudia Gimenez vão ter uma pequena participação. À Marisa caberá cuidar da lojinha esotérica que ficará na entrada do restaurante. Sério? "Super sério", diz Marisa.
Agora, quanto à antipatia: "Metida, sempre fui. Eles é que nunca notaram. Mas estou melhorando, aos 18 anos eu era insuportável", diz, rindo. Depois, completa: "É verdade, endureci, pero sin perder la ternura."
"Fiquei famosa, e o número de pessoas que começou a me procurar é enorme. Só que eu sou a mesma, e não tenho tanto tempo." Será?
Tudo ao mesmo tempo
No último ano, Marisa fez a peça "Três Mulheres Altas", apresentou o 1.o Vídeo Music Awards da MTV, participou do episódio "Sexo na Cabeça", do programa "Comédia da Vida Privada", participou do CD do Karnak, narrou histórias em CD-ROM e gravou o filme "Doces Poderes", em Brasília e no Rio de Janeiro.
Além, é claro, dos shows que Vexame vem fazendo no Paraguai, Belo Horizonte e outras cidades do Brasil.
Esse ano, além do "Sai de Baixo", ela já apresentou o Prêmio Shell de Teatro, participou de desfile de moda e vem gravando uma série de comerciais para a TV.
Fora isso, já perdeu as contas das peças de teatro que fez. O destaque é "Fique Comigo Esta Noite", que praticamente a tornou conhecida na cidade, apesar de ter ficado em cartaz apenas às segundas e terças, no teatro Igreja.
As novelas, fez duas: "Rainha da Sucata" e "Deus nos Acuda", na Rede Globo. Fez "TV Pirata" e também dirigiu o show de Vânia Bastos.
Os fracassos? "Não tive nenhum fracasso estrondoso, que deixasse traumas. Infelizmente, porque, depois de alguns anos, essas histórias viram o máximo. Mas tive uma peça, ainda na faculdade, em que 'o' público, que estava esperando na porta, mandou perguntar se ia ter espetáculo ou ele podia ir embora."
(Mesmo assim, Marisa é daquelas que passa três dias pensando porque o "cretino" do crítico, como gosta de falar, achou aquilo de seu trabalho.)
O número de pessoas que procuram Marisa Orth realmente aumentou muito, mas não vai parar por aí.
"Gostaria ainda de aprender um pouco sobre figurino, talvez fazer um curso. E falta mesmo escrever. Vou fazer isso quando tiver mais silêncio. Escrever peças, textos", diz.
Gostaria também de ter um filho quando tiver mais silêncio. "Estou morando com o Evandro (Pereira, produtor de filmes) há quatro anos e cada vez penso mais nisso. Dizem que quem pensa muito não tem, eu quero ter", diz Marisa.
"Sai de Baixo"
Enquanto esse silêncio não acontece, Marisa promete que este ano vai "dar um tempo" do teatro e do cinema, e aproveitar e se divertir com o "Sai de Baixo".
"É muito cansativo. Nós chegamos no teatro às 10h e só saímos à 1h30 do dia seguinte, mas nos divertimos muito."
Descansar, só com seus intermináveis banhos de espuma: "Já que eu sou uma estrela, droga, eu posso!"
A gravação do "Sai de Baixo" é exatamente da forma como se imagina. Chega todo mundo pela manhã e, enquanto lêem o texto e tomam um cafezinho, vão se intrometendo naquilo que havia sido previsto pelo autor para o programa a ser gravado naquela noite.
Na hora do almoço, é hora também de contar os "causos".
"Cada um conta suas histórias: as andanças do Tom fazendo seus sinhozinhos no Nordeste, as tentativas da Claudia de fazer uma peça séria (sem sucesso), os vexames no palco, e por aí vai. E a gente fica tentando encaixar as coisas mais engraçadas no texto", diz.
Improviso
Tem mesmo muita improvisação. "É muita gente engraçada junta. Na hora, você pensa: 'Puxa, ele falou isso, e foi muito bom, agora tenho que arrumar um jeito mais engraçado para responder'. E, têm momentos, em que a gente não se controla, e ri francamente."
Segundo Marisa, de certa forma, a participação do público, muda tudo.
"É muito diferente da 'TV Pirata' ou da 'Comédia da Vida Privada'. A reação tem que ser imediata. Você joga uma piada, e as pessoas riem ou não. Na 'TV Pirata', às vezes, o cenário já era a piada, tinha estúdio. Na 'Comédia da Vida Privada', levamos um mês para produzir tudo. Aqui, não tem o errou, parou, voltou. Se errar, já foi."
E é exatamente por isso que Marisa diz gostar, e se divertir, com o "Sai de Baixo". Faz parte da rotina entrar no palco ainda com o maquiador passando blush no rosto ou com o microfone enroscado na roupa.
Críticas
E, se a grande crítica ao programa é o seu formato -baseado na "Família Trapo", portanto, nada original-, então, "não há críticas, é só sucesso", diz Marisa.
A fórmula -fogosa burra, empregada palpiteira, tio metido a conquistador, marido malandro e corrupto, porteiro abobalhado e mãe ditadora-, segundo ela, é perfeita.
"Os personagens podem ser mais ou menos mascarados, mas são sempre os mesmos, e a comédia sobrevive disso. É a cara do Brasil um programa de auditório como esse, e o país precisa disso. Não é novidade que a televisão é um veículo conservador, não estou fazendo nenhuma crítica falando isso", diz.
Se forem levados em conta os números de audiência do programa, Marisa parece estar certa.
No dia 5 de maio, enquanto cerca de 3.500.000 de pessoas na Grande São Paulo assistiam ao "Sai de Baixo", às 22h30, na Rede Globo, 1.800.000 pessoas assistiam ao "Topa Tudo por Dinheiro", no SBT.
No que depender de Magda, os números vão ficar ainda melhor. Nos próximos programas, ela deve começar a demonstrar também seus dotes como cantora. "Agora, vou entrar cantando a música do Pocahontas."
"É muita cara-de-pau."

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