São Paulo, domingo, 19 de maio de 1996
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"Razão de Viver" deixa saudade de Lidia Brondi

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

O mundo da moda volta à tela com "Razão de Viver". As escaramuças internas de uma grande confecção são o pano de fundo da trama da novela. Já que glamour é a primeira palavra que se costuma associar à moda, de quando em quando aparecem nos roteiros da TV os personagens da cena fashion.
Acabamos de ter Camila Pitan ga como a aspirante a top model em "A Próxima Vítima", e Roberto Bataglin como o fotógrafo gostosão. E as situações propostas pelo autor Silvio de Abreu vieram tão bem amarradas que até nomes reais da moda brasileira eram citados nas falas dos atores.
O problema é que, em geral, nem sempre importa a veracidade da transcrição deste circuito. Aparecem então o estereótipo, a caricatura e o exagero -afinal de contas, mais convenientes a exercícios de estilo. Robert Altman e seu "Prêt-à-Porter" que o digam.
Em "Razão de Viver", Joana Fomm vive uma insuportável e prepotente dona de boutique que tenta alçar vôos à alta moda. A grife foi montada pelo marido como forma de ela se ocupar. Portanto, sem ser estilista, tem de contratar uma assistente para a criação, interpretada por Adriana Esteves. Até aí, nenhuma inverdade. Esse procedimento de dondoca dona de loja é bem comum na burguesia dos centros brasileiros e cidades de médio porte. Daí o fenômeno das multimarcas, que revendem marcas famosas, tão fortes fora do eixo Rio-São Paulo. O fato de a personagem não criar moda tampouco chega a ser absurdo. Grandes confecções brasileiras como Forum, Zoomp, Ellus ou Iódice têm empresários que comandam e orientam equipes de criação, sem necessariamente pegar num croqui ou exe cutar a modelagem de uma roupa.
Ainda, Joana Fomm é um poço de grosseria, desatinos e intransigência -bem parecido também com a histeria de alguns estilistas à beira de lançar coleção.
Assim, as maiores dificuldades da verossimilhança do mundinho fashion de "Razão de Viver" resultam em alguns diálogos e na interpretação. Por exemplo, Adriana Esteves garante ao pai que o desfile vai começar na hora. Nunca. Já o modelo Guilherme Linhares, numa ponta como um fotógrafo de personalidades, acha que "essa dona Yara é quente mesmo".
Tudo bem que determinadas pessoas no mundo da moda não seriam tão afetadas se fossem criadas por um mau roteirista, mas um deslumbramento desse transformado em fala boba embrulha tudo no pacotão da futilidade, estimulando certo preconceito.
Como em "Quero gente badalada no meu desfile", assume Yara (Joana Fomm) logo no primeiro capítulo. Sim, 50% do esforço de um evento de moda (em todo o mundo) consiste em levar descolados, artistas e famosos para a primeira fila.
Em "Razão de Viver", o máximo de vip foram a cantora Vanusa e a estilista Eugênia Fleury. Mais divertido é acompanhar na TV personagens reais da cena fashion como o produtor Pazetto, o maquiador Marcelo Prado ou a modelo Geanne Albertoni. Modelos também na vida real, Claudia Liz e Ana Paula Arosio enfeitam com simpatia a trama da novela. No fim das contas, moda na novela funciona para todo mundo. Autores, público (que chega mais perto dos tão cobiçados bastidores), gente de moda (que vê sua profissão mais popularizada e compreendida).
"Razão de Viver" deixa saudade mesmo da Solange, a inesquecível editora de moda da revista "Tomorrow", interpretada por Lidia Brondi em "Vale Tudo". De toda forma, resume tudo a fala da modelo Ana Paula Arosio diante das confusões do mundo fashion na estréia da novela: "Essa gente é pirada demais pro meu gosto."

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