São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
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"VR Troopers" mostra violência gratuita

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O mais novo hit televisivo infantil é o seriado "VR Troopers", exibido pela Fox nos fins de tarde. A roupagem liberal e de ficção científica do seriado não esconde a violência gratuita do universo retratado. Aqui o bem e o mal regem o mundo em uma dimensão de realidade virtual onde atuam somente heróis e bandidos.
Como em outros seriados de sucesso no momento, o super-herói masculino e adulto que enfrenta solitário o mal foi substituído por grupos de jovens, orientados por entidades supremas. Os Super Dínamo, Ultra Man, Ultra Seven, Nacional Kid dão lugar aos Troopers e aos Power Rangers.
As equipes de novos heróis são construídas de maneira politicamente correta. São compostas de meninos e meninas, negros e brancos. A caracterização individualista, branca e masculina ficou reservada ao vilão. Mas essa preocupação com a representação plural do bem não passa de maquiagem grosseira para histórias de combate maniqueísta.
"Troopers, transformação! Somos da realidade virtual!" O grito de guerra dos garotos anuncia a incorporação dos poderes para o combate. O comandante das forças das trevas também se transporta para a virtualidade. É significativa a ausência de qualquer referência à polícia. A função de bonzinho impotente desempenhada por essa instituição pública em outros seriados, aparece aqui na pele de um jornalista ingênuo, única testemunha "normal" dos acontecimentos virtuais.
O desconhecimento do significado da palavra virtual leva telespectadores-mirins a entenderem "realidade pessoal", ou ainda "realidade espiritual". A incompreensão não traz maiores consequências já que a virtualidade é reduzida a um tipo qualquer de transfiguração mágica que anuncia a transposição para a dimensão dos combates -que, afinal, constituem o maior interesse do programa.
A luta sempre continua. Ela pode se dar no espaço, ou em paisagens campestres vazias de outros seres que não os guerreiros com acesso à virtualidade. Os cenários urbanos cotidianos são reservados aos raros momentos de normalidade. Os malabarismos tecnológicos transmitem uma representação de combate como espetáculo pirotécnico. A guerra estetizada fascina as crianças.
A imagem virtual, acessível a qualquer visitante dos parque de diversões mais avançados, serve aqui para separar as forças que decidem das pessoas que assistem. Programas como este desperdiçam a imaginação infantil.

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