São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
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Karadzic diz que continua presidente

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da República Sérvia da Bósnia, Radovan Karadzic, anunciou ontem que não vai deixar o cargo, negando rumores surgidos em Belgrado na noite de anteontem.
O boato abriu uma crise de poder entre os sérvios da Bósnia. A informação, aparentemente, foi difundida por Momcilo Krajisnik, presidente do Parlamento da república que congrega os sérvios da Bósnia.
Karadzic é acusado de crimes de guerra e, por isso, foi banido da vida política da Bósnia pelo acordo de paz firmado no ano passado.
Sua suposta renúncia deixou eufórico o mediador sueco Carl Bildt, representante da União Européia: "Karadzic deixou a vida pública e não será mais visto nem ouvido".
Não foi o que aconteceu. A agência de notícias "SRNA", que divulga informações do governo sérvio da Bósnia, negou a renúncia.
A informação havia sido difundida pela agência "Tanjug", da vizinha Sérvia. Os sérvios são aliados dos sérvios da Bósnia e negociaram, em nome deles, o acordo que resultaria no banimento de Karadzic da política do país.
A "SRNA" atribuiu as informações a "mais uma tentativa de pressionar a liderança sérvia da Bósnia". Pelo acordo de Dayton, essa liderança deve ser representada por uma instituição sérvia, com controle sobre 49% do território bósnio, que governa o país junto com a entidade muçulmano-croata (51% do território).
Referendo
Horas depois, a "SRNA" disse que, na sexta-feira à noite, o Parlamento dos sérvios da Bósnia decidira convocar um referendo sobre a permanência de Karadzic. A votação acontecerá em breve, caso a pressão internacional contra o presidente continue.
Um porta-voz de Bildt disse que o sueco mantinha a informação de que a demissão de Karadzic "é um fato consumado e ratificado".
O governo muçulmano da Bósnia disse que preferia esperar por mais informações, mas afirmou que a suposta renúncia parecia ser uma manobra política.
Segundo a "Tanjug", Karadzic seria substituído pela vice-presidente Biljana Plavsic, que é considerada uma linha-dura. Ela vem recebendo mais atribuições nos últimos dias.
A suposta renúncia aconteceu no dia em que Karadzic deu posse a outro radical, Gojko Klickovic, no cargo de primeiro-ministro. Karadzic demitira o premiê anterior, Rajko Kasagic, por ter se alinhado excessivamente a Carl Bildt.
Por ser considerado um criminoso de guerra, Karadzic deveria ser julgado pelo tribunal internacional da ONU, sediado em Haia (Holanda). Observadores internacionais acham que, mesmo deixando o governo, Karadzic não se apresentará ao tribunal.
Vários criminosos de guerra já foram indiciados pelo tribunal de Haia. Um deles, o general sérvio da Bósnia Djordje Djukic, 62, morreu ontem em Belgrado.
Ele tinha câncer no pâncreas e estava em liberdade por causa de seu delicado estado de saúde.
Djukic era o assessor para logística (planejamento e infra-estrutura) do comandante militar dos sérvios, general Ratko Mladic, também acusado de crimes de guerra e banido da vida pública da Bósnia.

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