São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 1996
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"Livro Verde" orienta ações do IRA

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A BELFAST

O comportamento dos membros do IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo terrorista que defende a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, é determinado por um documento -o "Livro Verde".
A Folha teve acesso a uma cópia do regulamento na quinta-feira passada em Belfast.
Em 50 páginas fotocopiadas e encadernadas com espiral e capa verdes, o livreto dá noções históricas do republicanismo e ensina como um terrorista deve se comportar em sua vida pessoal, ações e eventual captura.
"O voluntário (como o IRA chama seus membros), uma vez dentro da organização, deve ter consciência de que apenas o silêncio é sua garantia", diz o texto, que foi desenvolvido pelos prisioneiros da ofensiva britânica de 1972-73.
O texto afirma que os inimigos do IRA são o Exército britânico, a RUC (polícia da Irlanda do Norte) e grupos unionistas, formados por protestantes pró-Reino Unido.
"O voluntário não deve: 1. falar em lugares públicos; 2. contar para familiares, amigos, namoradas ou colegas de trabalho sua ligação com o IRA; 3. falar sobre suas visões políticas e militares, em suma, não falar nada a ninguém".
O texto então detalha o comportamento em lugares específicos -alertando para o fato de que, em bares, o efeito do álcool pode levar o terrorista a falar sobre seus "feitos" ou de seus colegas.
Prisão
Em caso de prisão, há um capítulo à parte. "A coisa mais importante que se deve ter em mente quando for preso é que você é um voluntário de um Exército revolucionário, que você foi capturado por uma força inimiga e que não é nenhuma vergonha estar detido."
Métodos de tortura para confissão e pós-prisão são detalhados. "A única defesa é se manter frio, calmo e nunca dizer nada."
"É um relato fiel. Eu fui vítima dos espancamentos, das poucas horas de sono, da humilhação de ficar nu, das ameaças contra minha família", disse Roy Walsh, que ficou 21 anos preso por colocar bombas em Londres. Ele diz que os preceitos do livro são seguidos nas áreas católicas de Belfast, onde há "punições" para criminosos.

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