São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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"Marginália" recupera o desatino dos tropicalistas

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Em 1968, o compositor Caetano Veloso e o artista plástico Hélio Oiticica se encontraram, pela primeira vez, no apartamento da jornalista Marisa Alvarez Lima, no Rio de Janeiro. A razão: uma reportagem sobre as vanguardas brasileiras que seria publicada um dia antes da decretação do AI-5.
O texto e todos os seus personagens estão em "Marginália - Arte & Cultura 'Na Idade da Pedrada'", uma coleção de artigos de Marisa Alvarez, 60, que a editora Salamandra lança hoje em luxuosa edição.
Um diário sobre um dos grandes momentos da cultura nacional, "Marginália" traz textos originalmente escritos para as revistas "A Cigarra" e "O Cruzeiro", com fotos, cartas, entrevistas e ilustrações inéditas de artistas como Antonio Dias, Lígia Pappe e Jorge Guinle Filho, além de cartas de Oiticica.
"Eu conseguia perceber na época a importância daquele momento. Investiguei e me tornei amiga de todos eles em consequência de minha ansiedade cultural com tudo que estava acontecendo no país. Aquela paixão que caracterizava os anos 60", conta Marisa.
Foi a condição de amiga que a ajudou a documentar momentos do que mais tarde, com maiores e menores acertos do rótulo, seria conhecido como Tropicália.
Assim, é possível conhecer as ansiedades de Antonio Dias ("o garoto que na solidão desenhava histórias em quadrinhos") quando venceu a Bienal de Artes de Paris, aos 21 anos, ou saber o que aconteceu no "casamento sem gravata e sem documento" de Dedé e Caetano Veloso:
"Caetano tentando entrar na igreja, com as fãs tentando arrancar seus cabelos, dizia: 'Juízo, meninas, juízo'. Dona Canô aconselhava: 'Acene para elas, meu filho'".
Há, ainda, entre seus 23 capítulos, uma curiosa entrevista com o ator francês Jean-Pierre Léaud, o preferido de François Truffaut, em que fala de sua "atração pelo cinema e pelos diretores brasileiros".
Ao longo de 179 páginas, os artigos originais são acompanhados de novos textos da autora sobre cada episódio. Marisa tenta evitar o flerte com o saudosismo, mas seu livro reflete uma angustiante mudança de cenário:
"Ainda tenho contato com todos eles, mas sei que tudo mudou. Não existe mais aquela ingenuidade positiva. A alegria coletiva".
Livro: Marginália - Arte & Cultura 'Na Idade da Pedrada', ed. Salamandra Autora: Marisa Alvarez Lima
Quanto: US$ 67

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