São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Produção inglesa rouba a cena do festival

AMIR LABAKI
DO ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Cannes continua insuperável como barômetro da produção cinematográfica mundial.
A mostra competitiva monopolizou as atenções, o mercado não trouxe maiores surpresas e entre as paralelas apenas "Um Certo Olhar" despertou maior interesse.
Leia abaixo quem subiu e quem desceu em Cannes-96.
Quem subiu Cinema britânico - Apesar da crise financeira crônica, mais uma vez o cinema inglês roubou a cena. "Trainspotting", de Danny Boyle, foi o filme-sensação; "Secrets and Lies", o vencedor da Palma de Ouro, posicionou Mike Leigh num novo patamar internacional; e "The Pillow Book" reafirmou Peter Greenaway como um dos mais ousados diretores em atividade.
Hollywood - O cinema industrial americano fez sentir o peso de sua ausência. Cannes foi um festival quase sem estrelas. A exceção que confirmou a regra foi Al Pacino, com "Looking for Richard".
Curtas - Cannes finalmente descobriu o cinema de curta-metragem, acossado pela concorrência nacional do festival específico em Clermont-Ferrand.
Brasil - Mesmo excluído das seleções oficiais, a presença de um estande profissional no mercado reposicionou o cinema brasileiro no principal evento mundial.
Quem caiu Cinema francês - Os donos da festa confirmaram mais uma vez a crise de criatividade. Os três filmes na competição somados não dão um. O único destaque foi Eric Rohmer, com "Conto de Verão".
Cinema chinês - Depois de Zhang Yimou em 95, eis Chen Kaige com o maneirista "Temptress Moon". A China parece ter se rendido a produções para exportação.
Filme-surpresa O filme-surpresa de Cannes-96 confirmou-se mesmo um segredo de Polichinelo. Corria o boato de que se tratava de um filme "experimental" produzido, dirigido e estrelado por Steven Soderbergh, Palma de Ouro em 1989 por "sexo, mentiras e videotape".
Muito barulho por nada -ou quase. Em "Schizopolis", exibido no último final de semana, Soderbergh permite-se uma série de ousadias formais frente à produção comercial típica. Mas para assinar uma obra de vanguarda haveria um longo caminho a percorrer.
Soderbergh bancou "Schizopolis" com dinheiro do próprio bolso. Queria respirar fora dos grandes estúdios. Nada mais saudável. "Schizopolis" deve ser recebido com o descompromisso de uma brincadeira entre amigos. Exibi-lo como filme-surpresa é dar-lhe excessiva importância.
Chamá-lo de experimental é um exagero, a um passo da impostura. (AMIR LABAKI)

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