São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM CANNES

Rompendo uma tradição, Cannes deixou para os últimos dias os melhores filmes da seleção.
"Tierra", do espanhol Julio Medem, em que se ouve a música "Terra", de Caetano, é deslumbrante afresco rural e moderno sobre anjos da guarda apaixonados em meio a vinhas e pesticidas.
E o francês "Três Vidas e uma só Morte", dirigido pelo chileno Raul Ruiz e produzido pelo português Paulo Branco (dos filmes de Manoel de Oliveira), que retoma a linha surrealista de Buñuel.
Tem interpretação inesquecível de Marcello Mastroianni, que revive velhos fantasmas pequeno burgueses como um mendigo, ao mesmo tempo banqueiro milionário e professor da Sorbonne.
Muito preocupados com o PC, os americanos parecem ter esgotado a fórmula do cinema independente com filmes travessos e violentos.
O que se vê agora é o emprego de crianças em cenas de abuso sexual por adultos. Como no filme de estréia de Anjelica Huston, "Bastard Out of Carolina".
O humor e os recados para a prática de sexo responsável vieram de dois filmes do terceiro mundo: "Macadam Tribo", do zairense José Laplaine, e "Oi Primo!", do argelino Merzak Allouache. "Macadam Tribo" é uma comédia sobre disputas sexuais, otimista e estimulante. Sem complexos, sem misticismo e sem antropologia.
"Oi Primo!" também faz esquecer por uns bons momentos a violência dos fundamentalistas na Argélia. A indústria que falsifica roupas de marcas famosas usa tipos inocentes para buscar carregamentos em Paris.
"Inside", do veterano Arthur Penn, é um filme pequeno, restrito à televisão, com um tema duro e implacável sobre a África do Sul em tempos de segregação racial.
E o centenário do cinema, tão festejado em 1995, teve em Cannes apenas um rescaldo, e dos bons: "Irma Vep", o novo filme de Olivier Assayas ("L'Eau Froide").
Rende homenagem ao cinema -ao pioneiro do cinema mudo Louis Feuillade, que rodou "Vampiros" em 1915, e a Maggie Cheung, musa contemporânea de filmes de ação de Hong Kong.

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