São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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Heiner Müller funde arte e história

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

O acerto de contas da Alemanha com seu passado tem na obra do dramaturgo Heiner Müller (1929-1995) um testemunho indispensável. Ele viu a queda da República de Weimar e a ascensão do nazismo, permaneceu no lado socialista da Berlim dividida e afinal viu a queda e anexação da Alemanha Oriental ao mundo capitalista.
A mesa-redonda que o Instituto Goethe promove hoje às 20h e a autobiografia "Heiner Müller - Guerra sem Batalhas/Uma Vida sob Duas Ditaduras", a ser lançada em agosto pela editora Estação Liberdade (leia trecho abaixo), permitem ao público brasileiro avaliar a força dessa experiência histórica e a forma pela qual Müller a transmutou em criação artística.
Algumas peças dele, entre as mais de 30 existentes, já foram montadas no Brasil, como "Hamletmaschine", "Quartett", "Medeamaterial".
Esse pequeno conjunto é uma amostra exemplar do universo de Müller: releitura do Hamlet shakespeariano, de Marteuil e Valmont de "Ligações Perigosas", da heroína grega que mata os filhos, todos lançados em um mundo no qual o único sentido é a morte.
Mesa-redonda
O debate hoje no Instituto Goethe (rua Lisboa, 974, tel. 011/280 4288, com entrada franca), reúne, às 20h, cinco especialistas.
Destaca-se o professor alemão Florian Vassen, livre-docente da Universidade de Hannover. Vassen, além de ter escrito vários livros sobre teatro e literatura alemã, é co-autor de "Bibliografia Heiner Müller 1948-1992".
Ao lado dele estarão José Galisi Filho, professor da Unicamp; Márcio Aurélio, também professor da Unicamp e diretor de algumas encenações de textos de Müller no Brasil; Ruth Rõhl, da USP; e Ingrid Dormien Koudela, da USP.
Autobiografia
"Heiner Müller - Guerra sem Batalhas/Uma Vida sob Duas Ditaduras" é um depoimento às jornalistas Katja Lange-Müller, Helge Malchow e Renate Ziemer, durante seis meses, em 1992.
O interesse é pelo menos duplo. Permite, primeiro, compreender o teatro de Müller, acompanhar as propostas teatrais, as repercussões provocadas e a especificidade do trabalho de ator em um país socialista, na ótica do dramaturgo.
Em segundo lugar, dá acesso a um painel histórico, montado a contrapelo. Müller, embora tenha tido alguns acessos de crença, retornou sempre ao ceticismo.
Para ele, as marcas da história alemã se tornaram chaves amargas, e irônicas, para compreender o mundo. Por exemplo: "A evacuação para outros planetas, que já está ocorrendo, será seletiva, de acordo com o princípio Auschwitz". (ELVIS CESAR BONASSA)

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