São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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TRECHO

Quando voltei a Waren os estupros haviam cessado, com exceção de casos isolados. Houve um incidente com o substituto de meu pai, um gorducho de Macklenburgo. Um russo tinha-lhe roubado o relógio, um relógio de pulseira, e ele cometeu o erro de queixar-se ao comandante. Tínhamos reuniões periódicas com o comandante, uma vez por semana, distribuição de ordens para os funcionários. Isso era ligado a imensas bebedeiras, sempre cem gramas de vodca e cada um pronunciava um brinde. Voltavam para casa de quatro. A política russa era tornar os alemães dóceis pela bebida. Esse pobre coitado tinha uma úlcera e não podia beber. Quase foi fuzilado algumas vezes por não beber. Em todo caso, roubaram-lhe o relógio, e ele se queixou ao comandante. O comandante chamou seus soldados. O homem devia identificar quem havia roubado o relógio. Ele achou o soldado, apontou para ele, e o comandante fuzilou o soldado na hora.
Extraído de "Heiner Müller - Guerra sem Batalhas/Uma Vida sob Duas Ditaduras", tradução de Karola Zimber (editora Estação Liberdade)

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