São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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COMPARAR E COMPRAR

A estabilização econômica pode ser entendida também como um processo de aprendizado. O empresário aprende a observar melhor os mercados mundiais. O governo aprende que financiar o déficit público com emissão de moeda é mais difícil. Mas o consumidor também aprende.
Reportagem desta Folha publicada ontem mostra como isso acontece. Os consumidores tornam-se mais seletivos. Volta a crescer nos supermercados a venda de produtos com marcas menos conhecidas, fenômeno conhecido como o retorno da marca "de segunda".
O fenômeno tem aspectos positivos e negativos. É favorável na medida em que buscar um produto com marca menos notória ou mesmo sem marca revela sobretudo que o critério fundamental da compra é o preço. E a comparação entre preços era impossível na época de inflação alta.
O aspecto negativo, entretanto, é que esse consumidor criterioso é possivelmente também um indivíduo em dificuldades financeiras, um desempregado, por exemplo. Esse é o alerta dado pelo presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Firmino Rodrigues Alves.
Nesse processo que é simultaneamente de aprendizado e de adaptação, entretanto, não são apenas os consumidores que param para pensar. As empresas, diante do fenômeno, serão obrigadas a uma reavaliação de suas estratégias competitivas.
Afinal, o interesse do consumidor por produtos alternativos é também uma função da diferença entre o preço dos produtos com marca e o dos sem marca. Ou seja, provavelmente houve entre os produtores algum exagero na definição dos preços dos produtos com "grife".
Na essência, porém, está em jogo um processo fundamental. Entre o aprendizado necessário num ambiente de inflação baixa, a adaptação dos consumidores em dificuldades financeiras e a redefinição das estratégias empresariais, revela-se afinal que as forças do mercado funcionam. E devem ser respeitadas.

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