São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 1996
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ROTINA INDESEJÁVEL

Quando já estava se tornando corriqueiro o registro de números exponenciais de homicídios e chacinas nas grandes zonas urbanas do país, sobretudo em fins de semana, agora são as notícias de fugas e rebeliões em diversas penitenciárias que começam a aparecer com inaudita regularidade nas páginas policiais. Carandiru, de triste memória na crônica policial, talvez tenha sido apenas o hediondo estopim a partir do qual o explosivo sistema penitenciário vai sendo cada vez mais exposto ao conhecimento público.
As cifras assustam. Na madrugada de anteontem, 54 presos fugiram de delegacias de Parelheiros e Francisco Morato, na Grande São Paulo. E somente no último dia 9, 51 detentos haviam escapado da Casa de Detenção. A tendência parece irrefreável.
O diagnóstico, para a grande maioria das ocorrências, é invariável: a abusiva superlotação nos presídios, responsável pela coexistência dos detentos em condições que beiram a mais pura bestialidade, torna a fuga não mais um mero atrativo alimentado pela ociosidade, mas um imperativo de sobrevivência.
O mais surpreendente, porém, é a tática inusitada que vem sendo usada para as fugas: os presos cavam extensos buracos, em serviço diuturno, e muitas vezes com a conivência dos carcereiros -quando estes ali estão em número suficiente.
Ao que parece, ironicamente, são os próprios detentos que estão promovendo -de maneira afrontosa e indiscriminada, é claro- o que deveria ser uma tarefa fundamental para as autoridades judiciárias: diminuir a população carcerária.
É, pois, inadiável a adoção de critérios que diferenciem os detentos quanto ao grau de periculosidade e promovam condições minimamente aceitáveis para um relacionamento menos desumano entre os infratores, uma vez que a desejável reabilitação para o convívio social ainda soa hoje como uma meta inatingível.

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