São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 1996
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Governo compra ações e evita o fracasso do leilão

Estatal francesa assume o controle da empresa de energia

DA SUCURSAL DO RIO

O governo viabilizou ontem a privatização da Light, na Bolsa de Valores do Rio, comprando parte das ações negociadas.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que administra a venda de estatais do governo federal, representado pela subsidiária BNDESpar (BNDES Participações), comprou 15,24% das ações à venda.
Se não o fizesse, a privatização não aconteceria: os outros compradores não adquiriram 50% mais uma das cotas -condição para a efetivação do negócio.
Com essa operação, permaneceram nas mãos da União 39,14% das ações da companhia (veja a composição acionária da Light privatizada no quadro abaixo).
Mas a estatal francesa EDF (Électricité de France) e seus associados no leilão passam a deter o controle acionário da Light -que tem apenas ações ordinárias, todas com direito a voto-, decidindo a partir de agora pelo seu futuro. Os outros controladores são AES Virginia, a Houston Industries Energy, ambas dos EUA, CSN e BNDESpar.
Ao todo, foram vendidos 54,6% do capital total da Light, por R$ 2.216.635.000,00, sendo 32,73% deste dinheiro em "moedas podres" (títulos públicos).
Ontem, não foi pago ágio: cada lote de mil ações foi vendido pelo preço mínimo, R$ 3.902,31. Após o leilão, restou um saldo de 55.417 lotes, com 8,89% das ações ofertadas, que não tiveram comprador.
Foram vendidos 91,1% das ações colocadas em leilão. Se tivessem sido vendidos os 100% disponíveis (equivalentes a 60% do capital total da empresa), o governo teria arrecadado R$ 2.432.888.935,00.
O leilão da Light, fornecedora de energia elétrica para o Estado do Rio, foi o maior realizado no país.
Segundo o ministro José Serra (Planejamento), que acompanhou o negócio, pelo menos R$ 1,5 bilhão será pago em dinheiro, sendo que R$ 1 bilhão virá do exterior.
A maior parte do dinheiro arrecadado, afirmou Serra, será usada para pagar dívidas da Eletrobrás.
Madrugada de negociações
A privatização da Light já havia sido marcada pelo governo uma vez, para 14 de abril, mas acabou suspensa. Ainda na véspera do leilão, havia o temor de que o negócio acabaria não acontecendo.
A diretora de privatização do BNDES, Elena Landau, disse que o banco não sabe se participará do Conselho de Administração da Light, mesmo em posição minoritária. "Não há a menor possibilidade de controle estatal da empresa", disse.
A associação que permitiu a compra da Light não havia sido viabilizada até cerca de 15 minutos antes do leilão, marcado para 10h.
Uma série de reuniões que se intensificaram a partir da última quinta -incluindo uma encerrada às 5h de ontem e retomada mais tarde- selaram a aliança.
Além da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), que adquiriu 12,09% das ações ofertadas, o GTD, representando fundos de pensão, comprou 2,35%, e a International Brasil Export e Consórcio Transcom-Amurada, 3,99%.
Serra explicou que a International Brasil Export e a Transcom-Amurada, que conseguiram liminar para pagamento de 100% do preço em "moedas podres", serão obrigadas a trocá-las por dinheiro, se a liminar cair, ou a devolver as ações que compraram.

LEIA MAIS sobre a privatização da Light às págs. 1-5 e 2-8

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