São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 1996 |
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Herchcovitch traz simplicidade niilista
ERIKA PALOMINO
Não teve salto alto, não teve esquisitice, não teve chifre nem montação. Não teve o exagero ou o radicalismo explícito que sempre suscitaram as maiores críticas (e as maiores paixões) a seu trabalho. Foi um desfile às avessas, invertido e coerentemente contraditório. Para começar, a inspiração esportiva aparentemente simples, acessível e comercial. Nada disso. Os looks são sofisticados, de leitura difícil e árida a não-iniciados. À moda de marcas orientadas para fashionistas como a italiana Prada, Herchcovitch veio simples, feio, sem-graça e desconcertante, dividindo seu público. A consistente base desses conceitos são uma cartela de cores chocha, sobre tons de cinza e mescla; formas imbricadas e estamparia. Recursos como pregas, recortes, encaixes, cavalos e drapeados aparecem com sutileza e inteligência, chancelando a coleção mais intelectualizada da trajetória -ainda recente, é bom lembrar- do estilista. Alexandre Herchcovitch fez tudo de propósito. Parece mais maduro, consciente e cuidadoso. O que se percebe também em detalhes como as luvas nos mesmos tecidos das roupas; nas meias de velhinha com apliques; nos tênis Rainha com a marca da caveira. No caráter escolar que também orienta o estilista nesta coleção, uma certa desorientação diante da marcante existência de Marcelo Sommer a partir do último Phytoervas Fashion. Parceiro de Herchcovitch numa consultoria de moda, Sommer "vem" aqui em looks como o do nerd, de óculos e sobreposição de camisas. Impossível não lembrar. O paradoxo do desfile de Herchcovitch acontece também no quesito glamour. Passarela ao chão, modelos sem maquiagem e trilha sonora feita com a rádio Antena 1 ligada ao vivo e, portanto, ao acaso. Mesmo assim, a apresentação mais moderna da temporada. Texto Anterior: Cinema estimula o mercado de discos Próximo Texto: Esquece o social e desce pelo de serviço! Índice |
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