São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 1996
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Os reis dos animais

GILBERTO DIMENSTEIN

Sudão tem 14 anos, nasceu na África, mora na Califórnia e cobra US$ 800 por dia de trabalho -sem contar as refeições grátis, compostas apenas de filés ensanguentados.
Ao faturar US$ 80 mil no passado, Sudão mostrou que merece mesmo o título de rei dos animais. Por ser o bichano mais bem remunerado no mundo, por suas participações em comerciais e filmes, esse leão acaba de entrar numa das listas mais invejadas pelos americanos.
No reino dos humanos, o primeiro colocado está numa empresa que faz sucesso com os animais. Principal executivo da Walt Disney, Michael Eisner abocanhou nos últimos cinco anos US$ 232 milhões.
A revista "Forbes" acaba de lançar a lista dos principais salários nos EUA e ajuda a aguçar o mau humor contra os executivos.
Eles são acusados de promover demissões em massa para aumentar rapidamente os lucros e, por tabela, engordar seus bolsos; boa parte do rendimento vem das ações que complementam os salários.
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Estão levando bordoadas de todos os lados, atacados como animais selvagens. Apanham até de instituições como "The Wall Street Journal", o principal jornal de negócios do mundo, acusando-os de muita pressa e pouco critério.
Efeito colateral positivo: com medo de comprometer a imagem das empresas, transformaram-se num exército de cérebros avantajados à procura de soluções menos traumáticas para o desemprego.
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Num ano eleitoral, quando o desemprego está no topo da agenda, o presidente Bill Clinton decidiu dar destaque neste mês a empresas que encontram soluções.
A palavra da moda, agora, virou "empregabilidade" -que, mais cedo ou mais tarde, vai chegar no Brasil. Vai chegar porque tem muito bom senso; é uma alternativa entre a impossível estabilidade e as demissões selvagens.
Cada vez mais, executivos apóiam a idéia de que empresas devem investir no seu funcionário para que ele, caso demitido, consiga encontrar colocação no mercado.
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Um executivo ganhar US$ 232 milhões em cinco anos espanta menos do que um poeta faturar, por mês, US$ 450 mil.
É o caso da poetisa negra Maya Angelou, que já "comandou bordel".
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Um chefe indígena, administrador do patrimônio das tribos do povo mashantucket pequots, é o recorde entre os índios do planeta: US$$ 80 mil mensais.
Detalhe: nessas áreas indígenas foram feitas concessões a alguns dos mais concorridos cassinos do país.
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Um cabeleireiro de Hollywood (Cristopher Schatteman) consegue US$ 38 mil mensais.
Entre seus clientes estão Bill e Hillary Clinton, além de Steven Spielberg. Isso é que é efeito especial.
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Má notícia para as faculdades. A média salarial dos executivos é de US$ 1,6 milhão por ano; US$ 100 mil a mais do que os diplomados.
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PS - Essa marcha dos empresários a Brasília tem um cheiro de inflação.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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