São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 1996
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Ballet Kirov enfrenta a crise do fim do regime comunista

Diretor da companhia russa é acusado de desvio de dinheiro

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SÃO PETERSBURGO

Durante as noites brancas de São Petersburgo, uma disputa de poderes ocorre nos sombrios bastidores do Teatro Maryninski, sede do Ballet Kirov, que deve se apresentar no Brasil em outubro próximo.
Oleg Vinogradov, protagonista da história, vinha dirigindo o Kirov desde 1977. Todo-poderoso enriqueceu durante o regime comunista. Acusado de corrupção, foi pressionado para se afastar da direção da companhia.
Recentemente, chegou-se a anunciar Faruk Ruzimatov, estrela do elenco do Kirov, como o novo diretor da companhia. Livrar-se de Vinogradov, no entanto, não está sendo fácil.
Suposto dono de uma casa na Virgínia (EUA), Vinogradov chegou a se apossar dos cachês dos bailarinos durante as turnês internacionais do Kirov. Para provar tal "artimanha", foram numeradas as cédulas de dinheiro que deveriam pagar o elenco e que foram parar nos bolsos de Vinogradov.
Sumido nos últimos dias, Vinogradov reapareceu na última quinta-feira no Kirov, como se nada pudesse abalar sua força. Aparentemente, ninguém o contraria e, agora, Ruzimaov se apresenta como assistente de direção. Em meio aos ardis do Maryinski, as informações correm aos sussurros.
"Não sei porque continuo no Kirov", diz Vinogradov. "Acho que é porque nunca encontrarei outra companhia como esta no mundo embora, quem sabe, eu possa construir uma semelhante em Washington".
Ao contrário do Bolshoi, que sucumbiu perante à economia de preços abusivos da Rússia atual, o Kirov deve manter sua fama e padrão artístico, na opinião de Vinogradov. "O balé russo começou no Kirov. Criamos um estilo que não será destruído", ele discursa.
Símbolo da dança acadêmica, o Kirov ainda é um nome mágico para platéias internacionais, graças ao prestígio construído ao longo de seus 250 anos de história.
Verdadeiro museu das obras primordiais do balé clássico, o repertório do Kirov resiste como um testemunho do apogeu da companhia na época imperial.
A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou à Russia a convite da Dell'Arte

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