São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Releitura da Antiguidade traz boas notícias sexuais
DAVID DREW ZINGG
Como dizia George Mikes, aquele especialista espertinho em regras sociais inglesas, "os europeus do continente têm vida sexual; os ingleses têm bolsas de água quente". Em Oxford, minha jovem amiga, a estudante de filosofia, me pôs a par de suas últimas descobertas sobre o que os pensadores da Antiguidade pensavam do troca-troca interpessoal. Para resumir a questão, os gregos gostavam -e muito. Aristóteles estudou o tema e, depois, um pouco a contragosto, decidiu compartilhar com o público os segredos do sexo. Mas não sem antes se cercar de cautelas, expressas em tom profético: "Não fosse em prol do benefício público, especialmente aquele dos professores e dos praticantes da arte do partejo, eu me absteria de tratar dos segredos da natureza, posto que podem ser expostos ao ridículo por pessoas lascivas e indecentes". "'Mas, posto que é absolutamente necessário que sejam conhecidos para o bem do público, não os omitirei em razão da possibilidade de alguém fazer mau uso deles." Tio Dave tem a sensação estranha de que já ouviu o mesmo argumento repetido muitas vezes, para justificar a divulgação de praticamente qualquer coisa na televisão, desde violência a obscenidade. O Velho Ari prosseguiu, explicando que as partes às quais se referia eram conhecidas coletivamente como as "pudenda", ou coisas das quais se envergonhar, porque quando são expostas provocam na mulher o "pudor", ou vergonha. Como você pode ver, Joãozinho, os intelectuais já nos oneravam com a carga de um falso sentimento de culpa muito antes do dr. Freud chegar no pedaço para nos ajudar a nos sentir melhor e ao mesmo tempo ajudar-se a manter um estilo de vida confortável de alta classe média. Agora chegamos à parte verdadeiramente revolucionária da pesquisa de Aristóteles. Um dos segredos que ele relutantemente divulgou foi que O ÚTERO É DIVIDIDO EM DUAS PARTES, UMA PARA BEBÊS MENINOS E OUTRA PARA AS MENINAS. Imagine meu espanto quando a jovem estudante de filosofia me revelou este chocante primor de profundo pensamento original aristotélico! O velho livre-pensador grego foi ainda mais longe. Ele aconselhou a mulher que desejasse um filho a se deitar do lado direito, e aquela que quisesse uma filha a se deitar do lado esquerdo. Sei que muitos de meus leitores se voltam a esta coluna em busca de conselhos espirituais e das últimas e mais atualizadas notícias disponíveis no mundo do jornalismo brasileiro. Fiquem ligados, pois a releitura dos pensadores da Antiguidade nos traz ainda mais boas notícias sexuais. Plínio o Velho acreditava que as relações sexuais constituem um remédio eficiente para "....dores na virilha, fraqueza na vista, insanidade e melancolia". São conselhos que vêm a calhar para tio Dave. Como Jack Kennedy, que alegava sofrer fortes dores de cabeça se não fosse atendido diariamente, estou me sentindo estranhamente deprimido hoje. Voluntárias, favor formarem uma fila à direita. Foi para isso, afinal de contas, que vim à Inglaterra. Os ingleses podem, na realidade, não FAZER muito sexo, mas gastam quantidades enormes de energia e tempo estudando-o, lendo e escrevendo sobre sexo. Sir Ashley Cooper, cientista médico do século 19, foi um dos primeiros britânicos a oferecer um relato estudado dos males sexuais. Cooper levantou sérias dúvidas em relação à eficiência da terebintina e do ruibarbo no tratamento da ejaculação precoce. Em lugar disso, esse pioneiro científico atribuiu o problema à devassidão, à irritabilidade e à dieta deficiente. A impotência, segundo Cooper, se deve ao "torpor generalizado" e à "constituição física preguiçosa". Minhas próprias experiências em laboratório, financiadas integralmente pela Fundação Folha, sempre atenta às necessidades e interesses do público maior, me levam a concluir que um único ato de fazer amor despende a mesma quantidade de energia que 45 minutos gastos atirando "frisbee", uma hora e meia jogando baralho ou sete horas e meia fazendo hora em coquetéis. Ou uma semana escrevendo esta coluna. O mistério As mulheres inglesas são um pouquinho mais calorosas do que os homens, tão distantes e um tanto reservados. Em Oxford, conheci uma Jennifer que tinha uma maneira bastante eficiente de conseguir o que tinha em mente. Ela ficava com as mãos nas costas e dizia: "Se você adivinhar o que estou segurando, pode me levar pra cama". Um estudante tímido arriscou, em tom de brincadeira: "Um elefante". "Chegou pertinho", disse ela. "Vale como acerto." Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Coleção de fitas recupera valsas, polcas e chorinhos Próximo Texto: Poeta inglês devassa o universo da noite Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |