São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 1996
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Ieltsin vai encontrar líder tchetcheno

HELEN WOMACK

HELEN WOMACK; CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Zelimkhan Iandarbiev vai a Moscou para tentar uma solução pacífica para o conflito na Tchetchênia

Zelimkhan Iandarbiev, o novo líder da Tchetchênia, vai viajar até Moscou em breve para manter conversações de paz, poupando o presidente Boris Ieltsin da necessidade de fazer uma viagem a Grozni que, segundo seus assessores, seria perigosa demais.
A Organização para Segurança e Cooperação Européia (OSCE), que mediou as conversações de paz entre russos e tchetchenos no verão passado, anunciou que a nova tentativa de pôr fim ao conflito, que já dura 17 meses, terá lugar antes das eleições presidenciais do mês que vem na Rússia. Data e local não foram definidos.
Um porta-voz do Kremlin confirmou o anúncio da OSCE. "O presidente Boris Ieltsin garante a segurança do próprio Iandarbiev e dos integrantes de sua delegação."
Serguei Stepachin, secretário de uma comissão de Estado criada por Ieltsin em março para tentar um acordo com a Tchetchênia, disse que as conversações são um "grande avanço" e afirmou que elas não têm relação com a campanha de reeleição de Boris Ieltsin.
Mas as conversações dificilmente podem ser vistas fora do contexto da campanha.
Ieltsin, que hoje se arrepende de ter lançado a intervenção militar na Tchetchênia, em dezembro de 1994, sabe que seu futuro político depende de uma solução pacífica do conflito. Ele havia declarado sua disposição de ir pessoalmente a Grozni para buscar uma solução. Mas seus assessores de segurança disseram ter conhecimento de conspirações para assassiná-lo.
Comentava-se que militantes tchetchenos estariam alugando apartamentos ao longo da estrada do aeroporto de Grozni para serem usados por franco-atiradores.
Iandarbiev disse que não ordenaria nenhum ataque a Ieltsin, mas não poderia assegurar que algum pistoleiro isolado não buscasse vingar-se. Chamil Basaiev, que liderou um ataque a um hospital russo, jurou que, se Ieltsin entrasse na Tchetchênia, não sairia.
Zelimkhan Iandarbiev, que sucedeu ao líder separatista Djokhar Dudaiev depois da morte deste num ataque russo em abril passado, está se humilhando bastante ao aceitar viajar a Moscou.
Anteriormente, havia dito que só negociaria se Ieltsin provasse que não havia ordenado a morte de Dudaiev, que se acredita ter sido obra de setores de linha-dura do Exército russo.
Combates
O Exército russo anunciou que expulsou rebeldes tchetchenos de uma antiga base soviética de mísseis nucleares, onde vinham resistindo havia mais de um ano.
Os combates prosseguiam, mas o general Guennadi Truchin disse que seu 58º Exército estava só "varrendo as sobras" após expulsar os rebeldes de quatro depósitos na base, próxima à vila de Bamut, oeste da Tchetchênia. No ano passado, os russos já haviam feito nove tentativas de expulsá-los.
Apoio
O chanceler alemão, Helmut Kohl, e o presidente norte-americano, Bill Clinton, deram ontem seu apoio a Boris Ieltsin na eleição presidencial russa.
Depois de terem se reunido por 90 minutos na cidade de Milwaukee, Wisconsin (Meio-Oeste dos EUA), Kohl e Clinton não esconderam de jornalistas sua preferência para o futuro da Rússia.
"Espero realmente que o presidente atual vença a eleição", disse Kohl. Clinton foi menos explícito. "Ele (Ieltsin) e as outras forças reformistas da Rússia representam o futuro, e esperamos que o povo russo vote pelo futuro", afirmou.

Colaborou Carlos Eduardo Lins da Silva, de Washington

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